Bom dia! Humanoide, robôs correndo nas ruas, guerras intergaláticas e todas essas estórias que fizeram e fazem parte das nossas vidas por gerações, filmes e seriados ajudam a naturalizar um tema bastante complexo e cheio de “inovação” tecnológica ao ponto de mudar o nosso entendimento sobre a palavra tecnologia. De poucos anos para cá muitos monopólios foram sendo gerados e a área de desenvolvimento de software passou a servir quase integralmente para poucos propósitos, como a publicidade, diminuição de custos e substituição do trabalho braçal.
Recentemente uma empresa de tecnologia do Vale do Silício anunciou que sua assistente de voz passaria a “expressar” emoções de acordo com os gostos de cada usuário por mudar o tom do som que simula a voz humana para enfatizar determinados acontecimentos. Este tipo de assunto nos obriga a refletir sobre temas que até pouco tempo dispensara explicações, causando a histeria global de forma proposital, fazendo jus ao que conhecemos como globalização. Sei que você já deve ter ouvido várias explicações sobre o termo globalização e a importância da unificação do conhecimento, da troca de experiências e informações para o crescimento mútuo, de fato é algo essencial para evoluirmos como sociedade e igreja, porém precisamos entender e aceitar os limites de toda essa “evolução”, afinal, evolução para qual direção? A primeira vez que tive contato com a palavra globalização foi em 2006 (acredito que muito tardio), mas isso não importava, a globalização não tinha pressa, pois ela sabia que em pouco tempo iria conseguir o que queria comigo e com você. Perguntei-me o que aconteceria se o mesmo anúncio (no começo desse parágrafo) fosse feito naquele ano, será que teria mais impacto e atrairia muito mais atenção que hoje? Sem dúvidas seria um impacto muito forte, mas ainda visto como algo distante, pois é muito mais fácil a aceitação de uma tecnologia nova quando o conceito já está naturalizado e bem diluído na sociedade, por mais absurdo que pareça.
Todos os dias gasto em torno de trinta minutos esperando o ônibus para o trabalho, dentre todas as pessoas ao meu redor que (óbvio) estão olhando para a tela do celular, uma delas sempre me rouba a atenção pelo comportamento um tanto inusitado, dentre o intervalo entre o meu ônibus e o dela vão-se em torno de vinte minutos, neste período consigo observá-la fazendo expressões distintas para a tela do celular, uma hora é triste, outra hora é de raiva, outra hora é de dúvida e assim por diante, depois de mais de um ano e meio consegui deduzir que tratava-se de um tipo de aplicativo que “ensina” softwares a criar padrões sobre o comportamento humano em diferentes condições. Sei que um ano e meio é muito tempo, mas nunca tive a oportunidade de ouvir sua voz, quiçá ser notado, afinal de contas, ninguém é obrigado a estar sorrindo ou notando outrem, certo? CERTO?
Essa pessoa é apenas uma das dezenas ou centenas que vejo diariamente e que ajudam a reforçar o meu entendimento de que para fazer funcionar o sistema globalizado é necessário mudar o nosso comportamento, a tecnologia digital não tem e nunca terá a capacidade de igualar-se ao ser humano, o único caminho que resta é adequar-nos ao mundo digital, e a forma mais fácil de atingir este objetivo é igualando os pensamentos, costumes, rotinas, gostos, sentimentos e culturas, onde eu e minha colega de parada de ônibus estamos fazendo um ótimo trabalho de contribuição para tal.
A história de 2006 para cá me ensinou que a globalização é algo inevitável e irreversível, seu “tendão de Aquiles” é a centelha humana que nos faz distinguir um “bom dia” vindo de uma máquina ou de um humanoide, todos os dias estou aprendendo cada vez mais que os robôs feitos de lata que imitam humanos (como os mostrados nos filmes) nunca farão parte do nosso cotidiano, eles não precisam existir, somos suas matérias prima em abundância neste planeta, sim, somos nós os humanoides, por isso precisarei terminar o texto da mesma forma que comecei, afinal de contas essas duas primeiras palavras são apenas um gatilho automático no seu cérebro, certo? Vou repetí-las para ver se temos um resultado diferente. Bom dia!
Por Yrineu Rodrigues. Juazeirense, desenvolvedor de software. Atualmente morando em San Jose, CA
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri