No sopé da Chapada do Araripe, onde o sol se levanta como um juramento renovado a cada manhã, repousa o meu torrão adorado: Crato. Uma cidade que se desdobra em histórias, onde as pedras antigas sussurram segredos aos ventos que dançam entre as ruas estreitas.
Era uma vez, numa tarde quente de verão, quando o sol dourava as paredes caiadas de branco, que decidi perder-me nas vielas do Crato. Caminhava sem rumo, deixando que meus passos me levassem onde quisessem. E foi assim que me vi diante da Catedral da Sé, com suas torres que se erguiam como guardiãs dos tempos idos.
Ao adentrar, fui recebida pelo frescor que pairava no ar, um refúgio bem-vindo do calor lá fora. Os bancos de madeira polida testemunhavam séculos de preces e murmúrios, enquanto os vitrais coloridos lançavam sombras mágicas pelo chão de pedra. Ali, no silêncio sagrado, senti-me pequena diante da imensidão do tempo, conectada a algo maior do que eu mesmo.
Mas Crato não é apenas história e devoção. É também o pulsar da vida cotidiana, o aroma inebriante das especiarias nas feiras ao ar livre, o riso das crianças que correm pelas praças. É o sabor único do pão fresco da padaria da esquina, a simplicidade acolhedora das casas que se abrem para receber amigos e desconhecidos.
Nas noites serenas, Crato se transforma em um palco de estrelas, onde o céu se abre em um espetáculo de luzes cintilantes. É quando os músicos de rua entoam suas canções, embalando os amantes que dançam sob a luz da lua. E assim, entre risos e melodias, o tempo parece suspenso, como se o mundo inteiro se recolhesse para apreciar a beleza singela dessa cidade encantada.
Crato, meu torrão adorado, és mais do que um lugar no mapa. És parte de mim, uma história que se entrelaça com a minha própria. E mesmo que os anos passem e as estações mudem, sei que sempre encontrarei abrigo em tuas ruas repleta de memórias. Pois em Crato, o tempo é eterno e o amor, imortal.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este texto é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri