Segundo Karl Marx, se a expressão consciente das condições reais dos indivíduos é ilusória, se a realidade comparece em suas representações de maneira invertida, é isso uma consequência de sua atividade limitada e da sua situação social limitada que daí decorre. Segundo Karel Kosic, a pseudoconcreticidade toma as coisas no seu isolamento, toma a essência pelo fenômeno, à mediação pelo imediatismo.
O mundo da pseudoconcreticidade é justamente a existência autônoma dos produtos do homem e a redução do homem ao nível da práxis utilitária.
Então o mundo da pseudoconcreticidade é um claro-escuro de verdade e engano. O fenômeno indica a essência e, ao mesmo tempo, esconde. A essência se manifesta no fenômeno, mas só de modo inadequado, parcial ou apenas sob certos ângulos e aspectos. O homem esquece evita ou simplesmente não pensa a ontologia do ser conforme a processualidade histórica dos fatos, não faz uma articulação entre pensamento e ação, pensamento e realidade. Não pensa a construção das relações humanas de forma dinâmica, e nem as formas de consciências sociais por nós produzidas. O modo de produção da vida aparece reificado, coisificado, ou seja, reproduz-se aquilo que nos aparece de imediato ou acabamos de perecer. Lukács ,em sua “Ontologia do ser social” , nos relata a possibilidade de apreensão do ser o do movimento enquanto práxis humana. As formas de objetivação do ser social situa-se permanentemente em transformação. Sabendo o significado da expressão “mundo da pseudoconcreticidade”, vamos ver agora os motivos que levaram a sua destruição.
O pensamento comum é a concepção do mundo e a ação humana no seu cotidiano. O mundo que é apresentado ao homem na prática sobre-humana de forma já estabelecida não é o mundo real, é o mundo das aparências embora esse mundo tenha fundamento e seja considerado como real. A representação do objeto não estabelece uma propriedade natural do objeto e da realidade, é a reprodução de determinadas condições histórico-desumanas na consciência do sujeito. O pensamento ao mesmo tempo destrói a pseudoconcreticidade, atingindo a concreticidade se torna um produto onde revela o mundo real sob o mundo das aparências. A dialética não considera os aspectos pré-determinados aí pré-estabelecidos e apresentam fenômenos derivados como produto da prática social da humanidade, portanto, a destruição da pseudoconcreticidade como método dialético crítico diante das dissoluções das criações fetichizadas do mundo ideal, representa um método revolucionário de transformação da realidade. Diante disso, vemos que a realidade pode ser mudada a partir do momento que nós a produzirmos e sabermos que ela é produzida por nós. Podemos diante desse processo distinguir realidade natural e realidade humano-social, mediante a possibilidade do homem transformar e mudar a natureza, enquanto pode, de modo revolucionário, mudar a realidade humano-social porque ele é o próprio produtor dessa realidade.
Segundo o filósofo Karel Kosik “a destruição da pseudoconcreticidade significa que a verdade não é nem inatingível, nem alcançável de uma vez para sempre, mas que ela se faz: logo, se desenvolve e se realiza”. “A destruição da pseudoconcreticidade é o processo de criação da realidade concreta e a visão da realidade, da sua concreticidade”. Para isso é necessário historizar o fenômeno para atingir a essência. Para o filósofo alemão Herbert Marcuse “verdadeiro é tudo que se realiza completamente” Os fenômenos enquanto formas transitórias da essência são falsos ao mesmo tempo que a manifesta, oculta-a. A verdade é o conjunto do processo pois, é a realização da essência. O senso comum limita-se a relação imediata com os fenômenos não percebendo sua natureza derivada e histórica: daí a fetichização do ser social vivendo um mundo sem sustentabilidade e cada vez mais artificial e aparente.
A sociedade esqueceu-se de sua condição histórica, e agora reproduz a sua condição alienada de forma finalista, fatalista. Bertold Bretch relatava a existência dos “analfabetos políticos”. Pois então, me parece também que existem os analfabetos com relação à história. Como nos alerta Eduardo Galeano, o sistema esvazia a nossa memória, e assim nos ensina a repetir a história em vez de fazê-la.
Por Sandro Leonel. Professor formado em Geografia na Universidade Regional do Cariri (URCA)
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri