FALTA OXIGÊNIO E SOBRAM MORTES E CANALHAS
A tragédia que se abate sobre Manaus traduz perfeitamente a invasão de canalhas que ocupam cargos e encargos nas mais diversas esferas do poder, sob o comando da pior horda de fascistas da história brasileira. Em sua maioria são militares instituídos pela destituição de capacitação técnica e essência humana. A posse dessa novíssima espécie de tribalismo canibal tem a marca indelével da falange demoníaca mais conhecida hodiernamente como “cidadãos de bem”. Juntos, eles formam o empreendedorismo que está matando o Brasil por asfixia, segundo afirmam, para salvar a “pátria amada”, em nome de Deus. Os fantasmas das vítimas do Coronavírus e da negligência criminosa da necropolítica não sabem para onde vão, ainda estão presos aos seus familiares, que por sua vez ainda estão presos ao limbo da ignorância pura e premeditada. Quantos mais precisam morrer de forma vil, para que aconteça um impedimento desse governo genocida? Uma simples pedalada fiscal, feita por todos os governos anteriores, serviu de motivo para a origem de tudo isso. Será preciso uma guerra civil para impedir que esse governo continue a destruição do país, continue enterrando o futuro dos brasileiros execrados em uma cova terrivelmente rasa e conservadoramente coletiva, mesmo pagando o dízimo? Existe uma fronteira no inconsciente coletivo brasileiro, de um lado está uma horda e no outro está o fantasma de Diógenes de Sínope, sem cinismo, apenas incrédulo.
A CRISE
Nos últimos 60 dias a mídia vem registrando cotidianamente o anunciado crescimento da segunda onda no Brasil, comprovando a situação gravíssima através do registro de mortes e de infectados, sendo que o Amazonas foi o primeiro estado a entrar em colapso, principalmente a capital Manaus. A situação assumiu o patamar do desespero e da agonia sem fim, quando o também anunciado colapso do abastecimento de oxigênio, saiu dos corredores obscuros da política e passou a cavar covas para enterrar as tragédias privadas, fomentadas pelas mãos públicas que asfixiam até o último suspiro da indignidade humana. Indignidade essa, que tem nome, endereço e voto. Depois da morte coletiva em alas de UTI dos hospitais de Manaus, o repórter Renato Souza notifica: “Empresa White Martins, que fornece oxigênio para hospitais de Manaus, diz que vai importar suprimento da Venezuela para atender a cidade. Com aumento de internações, demanda por oxigênio saltou de 25 mil metros cúbicos por dia, para 70 mil”. Não é alento. Não explica, não justifica, muito menos fundamenta uma causa. Apenas amplifica com lentes macrocósmicas até que ponto pode chegar o maucaratismo do poder público no Brasil. Segundo o consórcio de mídia a “ média móvel de mortes cresceu 183% no Amazonas nos últimos 7 dias. Até esta quarta-feira (13), mais de 219 mil pessoas haviam sido infectadas pela Covid em todo o estado, e mais de 5,8 mil morreram com a doença.” Nos hospitais de Manaus o cenário é de guerra e lembra o genocídio premeditado de judeus assassinados por asfixia.
A CRÍTICA DA CRISE
No final de dezembro já havia uma grande discussão sobre medidas de isolamento social no estado do Amazonas, uma vez que a segunda onda já se apresentava de fato. O governador Wilson Lima, do PSC, partido da base governamental do Messias, anunciou o fechamento do comércio não essencial por 15 dias. Centenas de pessoas foram às ruas para protestar contra a decisão. No dia seguinte, em 27 de dezembro, o governador recuou, face à pressão do governo federal e ao comportamento de rebanho do gado, e liberou o funcionamento das lojas. A armadilha foi armada contra a população, pela própria população, em sua maioria bolsonarista e seguidora fiel dos conselhos reiterados do mandatário de quebrar o isolamento e de acabar com o uso de máscaras, sob o argumento vazio de que a economia não deve ceder às “falácias da ciência”, pois “tudo agora é pandemia, tem que acabar com esse negócio. Lamento os mortos, lamento. Todos nós vamos morrer um dia, aqui todo mundo vai morrer. Não adianta fugir disso, fugir da realidade. O Brasil tem que deixar de ser um país de maricas”. Sobre Bolsonaro não há mais nada a ser questionado sobre sua implicação direta nessas e noutras mortes da pandemia. Já sobre Wilson Lima há o que deve ser lembrado: No ano passado, ele foi investigado pela compra de respiradores em uma loja de vinhos, com preços superfaturados, pelo governo do Amazonas. Isso dá uma ideia precisa do grau de responsabilização pela falta criminosa de planejamento no abastecimento de oxigênio dos hospitais. Não existe desculpa de alta da demanda, só existe culpa e culpa. Só no hospital 28 de Agosto, morreram 28 pessoas por asfixia, em um registro momentâneo. Manaus bateu pelo quarto dia consecutivo o recorde de sepultamentos diários: foram 198. Câmaras frigoríficas voltaram a ser usadas na capital para armazenar corpos. Eles ficam do lado de fora dos hospitais.
O TERRAPLANISMO DA CRISE
Quando o prefeito de Manaus, Davi Almeida, do Avante, partido com maioria alinhada ao bolsonarismo, pediu ajuda ao governo federal, ele recebeu a visita de Pazuello, o ministro bêbado pelo caos assoberbado. Esse foi o desastre de abertura da tragédia. Além de não apresentar nenhuma estratégia de resolução, muito menos um calendário plausível de vacinação, mesmo que não fosse necessariamente no dia D ou na hora H, o ministro general criticou abertamente o prefeito e os profissionais de saúde por não seguirem o “plano” de tratamento precoce imposto pela pasta de saúde federal, o famigerado kit-Covid: composto por hidroxicloroquina e ivermectina, medicamentos cientificamente comprovados como sem nenhuma utilidade no tratamento do vírus, apresentando efeitos colaterais que podem levar à morte. Pazuello requisitou ao prefeito Davi Almeida uma ronda nas Unidades Básicas de Saúde de Manaus, para “encorajar” o uso do tratamento precoce. Não utilizar o kit-Covid é visto pelo Ministério da Saúde como sendo uma atitude “inadmissível”. Essa pressão inconstitucional foi prontamente denunciada ao Ministério Público pelos deputados federais Alexandre Padilha, do PT, e Marcelo Freixo, do PSOL. Sobre o caso Alexandre Padilha afirmou: “É irresponsável e cínico, enquanto mais de 400 pessoas aguardam leitos em Manaus, o Ministério vir pressionar e constranger para o uso de medicamentos sem evidência científica. Só revela que o Ministério da Saúde está mais preocupado em desovar os medicamentos sem eficácia comprados com recurso público do que levar vacina e salvar vidas a quem precisa”. A ideia absurda no uso desses medicamentos tem origem na devoção infantilóide de Bolsonaro a Trump, derrotado e terrorista doméstico. Em sua visita a Manaus, já na última segunda-feira, sobre a falta de oxigênio, Pazuello repetiu a postura da necropolítica bolsonarista: “o que você vai fazer? Nada. Vai esperar chegar o oxigênio.”
A ATRIBUIÇÃO DA CULPA DA CRISE
Na terça-feira, dia 12 de janeiro, Bolsonaro criticou a prefeitura de Manaus e o governo do Amazonas, ao mesmo tempo em que culpou ambos pela crise da falta de oxigênio, devido à falta de um tratamento precoce. O depoimento foi dado a apoiadores, em frente ao Palácio do Planalto e publicado em um canal bolsonarista no YouTube. Em seu português raquítico ele disse: “Não faziam tratamento precoce. Aumentou assustadoramente o número de mortes. E mortes, pessoal, por asfixia porque não tinha oxigênio. O governo estadual e municipal deixou acabar oxigênio”. Depois de dizer que a cidade não recorre ao tratamento precoce, Bolsonaro afirmou que o governo precisou intervir na cidade. “Fomos para lá, e ele [Pazuello] interferiu. Estão falando já que interferiu. Então vai deixar o pessoal morrer?”. Na lógica terraplanista desse esculacho, a falta de tratamento precoce: hidroxicloroquina e ivermectina, provocou um aumento considerável de infectados, o que gerou uma demanda por oxigênio, impossível de ser gerenciada. Ele foi o salvador da pátria amada ao mandar o seu escudeiro Sancho Pazuello para fazer mais pressão e anunciar medidas paliativas. Vale ressaltar que em seu depoimento negacionista, aditivado de obscurantismo ao extremo, o mandatário não diz em momento nenhum que vai providencia a compra imediata de oxigênio, como também não apresenta nenhum plano de vacinação, não acelera a Anvisa na liberação das vacinas, que continua protelando prazos, pedindo mais documentos e mais dados, nem entrega seringas como forma de agilizar uma imunização e nem fica sequer consternado com a situação desesperadora de quem está sofrendo. De forma oportunista e mentirosa ele diz que salvou pessoas. Da mesma forma que mentiu ao gado no matadouro, afirmando que a pandemia está no “finalzinho”.
A RESPONSABILIDADE PELAS MORTES POR ASFIXIA
A grande imprensa continua com sua cara de paisagem, dando manchetes macabras, explorando os depoimentos transtornados de profissionais e parentes diretamente afetados pelas cenas de horror. Testemunhar uma vítima da Covid-19 morrer entubada, isolada de parentes, imersa no frio solitário da passagem, causa vertigem até no mais experiente profissional de saúde, pela repetição e pela impotência. Testemunhar uma vítima da Covid-19 morrer asfixiada por falta de oxigênio, negligenciado pelas autoridades públicas, é estarrecedor enquanto totaliza o descalabro e a desvalorização da vida do outro, e é profundamente aniquilador enquanto representa a banalização metódica da dignidade, bem como o descarte rotineiro dos princípios civilizadores. A condição rasteira e a vileza torpe do ser social tornou-se o código de ética desse tribalismo terrivelmente conservador, desse fascismo terrivelmente religioso, dessa fagocitose pervertida pela preservação do mais bandido e do mais sem escrúpulos. O negacionismo é uma forma de camuflar a decadência da alma. A construção de narrativas falsas, invertidas para a melhor negociata, é apenas uma continuidade na gestação dos cidadãos de bem. A mentira chegou ao ápice da legitimação, mais facínora do que nunca, sem disfarces, corroborada pela patifaria e brindada pelos canalhas. O Brasil sempre foi um entreposto de desonestidade, de ladroagem pública e privada, agora com requintes de crueldade. Os porões das ditaduras brasileiras nunca foram fechados, continuam absolutamente soberbos, a cidadania continua urrando suas dores em torturas eternas. Esse estamento contra a evolução e a civilidade social, é a necessidade urgente da manutenção do poder, da possibilidade de fazer tudo pelo poder, pois o poder pode quase tudo. Só não pode esconder a sua conivência que respalda essa postura de exceção. Se você apoia e defende essa ideologia criminosamente fascista, seja você quem for, suas mãos estão matando por asfixia, quem já morreu socialmente na indigência do poder público.
*Os pontos de vista aqui emitidos são de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri