Em 2018 o Cristiano Dias do podcast ‘Boa noite internet’ gravou um episódio com este mesmo título, no áudio o Cris Dias (como é chamado) debateu sobre a importância do entendimento da relação entre ser humano e trabalho. Ter ouvido aquele episódio me fez lembrar das aulas de sociologia na faculdade no qual fizemos um debate construtivo sobre as relações de trabalho em diferentes culturas, hoje tendo experiências com diferentes etnias consigo ter uma visão holística sobre trabalho, profissão, e vida pessoal.
Desde quando dei início à minha “vida” profissional passei a realizar um exercício para saber o que merece ou não o meu foco no presente momento. Costumo fazer o esforço de tentar prever como estarei daqui a cinco anos para perguntar-me o que mudou e o que não mudou e se está bom ou não, daí faço o mesmo para o presente e o passado (sempre na ordem decrescente e com intervalo de cinco anos), ao final tento imaginar-me idoso no qual faço-me as perguntas, o que realmente valeu a pena? Ter trabalhado demais? Construído coisas? Experiências vividas ou laços criados?
Para um desenvolvedor de software é muito importante entender a diferença entre profissão e trabalho, onde profissão é algo rotulado no qual necessita de experiência para a sua atuação, e trabalho pode ser algo momentâneo ou projetável (possui início, meio e fim), cada trabalho realizado pode intensificar ou em muitos casos mudar o foco da sua experiência profissional, é necessário entender que você não é O desenvolvedor, nem mesmo O analista de sistemas, ou O gerente de projetos, você é apenas parte do todo e todos os que estão trabalhando COM você possuem diferentes habilidades, tempos e rotinas, não mais ou menos importantes que as suas e em muitos casos impossível de quantificar ou qualificar (afinal, não acredito que nesta altura do campeonato você ainda acredita em QI ou testes vocacionais assertivos).
É comum quando criança termos ouvido: O que você quer ser quando crescer? Este tipo de pergunta de resposta irrelevante está em muitos casos relacionada à profissão (uma herança de cultura familiar, mídia e outros), que por pressão social e necessidades financeiras nos forçam a enfatizar a importância de alcançar o tal “sucesso na vida”, este tipo de confusão aliado ao individualismo e o empoderado do luxo da exclusividade dá espaço para a má interpretação da importância de possuir ego, que de forma defensiva acabamos pecando pelo exagero.
Como citado em textos anteriores, o ego elevado é algo notório na área de TI, acredito que por ser uma área de constante mudança muitos profissionais acabam sentindo-se pressionados a formar opinião sobre linguagens ou metodologias mesmo sem nunca as terem utilizado. Este tipo de comportamento é bastante comum em profissionais inseguros e com pouca experiência, no qual contam com o blefe para obter vantagens que vão desde o pioneirismo ou apenas para ganhar um argumento, lembre-se que nem mesmo o Alan Turing foi capaz de criar a ‘Enigma’ sozinho.
“Sem problemas, foi uma experiência de aprendizado”, esta é uma das frases que mais ouvi desde que comecei a trabalhar com empresas no vale do silício, me formei profissionalmente acreditando que o vale seria o topo da “cadeia alimentar” da área de TI, ao deparar-me com esta frase vinda de pessoas que me faziam acreditar ser um impostor (no lugar onde falam que tudo acontece) me fez perguntar em qual momento irei utilizar toda essas experiências aprendidas, e se o esforço para aprendê-las era mesmo compensador. Foi então que entendi que como profissional, trabalhador e ser humano preciso aprender a dividir o meu tempo entre trabalho e vida pessoal/social, e que era necessário uma inversão de prioridades/valores, afinal, é possível precificar o seu momento de lazer? Ou o seu momento de não fazer nada? Trabalhar demais não me fará um vencedor, e sim apenas mais um que aprendeu a dar preço para um recurso limitado, o tempo.
Nós como profissionais de TI devemos entender que a melhor e mais velha tecnologia que devemos desenvolver é a empatia, tenha em mente que jamais alguém desenvolve software sozinho e que é e foi um erro achar que podemos chefiar alguém, somos parte de um todo, não somos o que fazemos, você não é e nem precisa ser o melhor, você não é o seu crachá.
Por Yrineu Rodrigues, juazeirense, desenvolvedor de software. Atualmente morando em San Jose, CA
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri