O discurso de Bolsonaro na ONU é uma mistura de patifaria anacrônica com terrorismo contemporâneo. É patético, mas, intensamente perigoso como um bombardeio de napalm. Depois de elogiar efusivamente o sanguinário ditador chileno, general Pinochet, que se manteve no poder totalitário por quase vinte anos, ele fala em “democracia”.
Depois de indicar Ricardo Salles para ministro do Meio Ambiente, que defende o agronegócio, que desmontou as políticas ambientais e militarizou a pasta, ele fala em “defender” o meio ambiente. Ao se transformar em capacho de Trump ele transforma a sociedade brasileira em cara-pálida, que vai ao cinema ver índio brasileiro morrer, em filme de bang bang da bancada ruralista, agora devidamente armada por direito e decreto do governo brasileiro.
Evocar a doutrina Truman, contra o “socialismo”, é um claro efeito do supositório receitado por Olavo de Carvalho para o presidente, numa tentativa de manter vivo o sonho tardio dele de um dia se transformar em um ditador do Brasil, para depois distribuir novas capitanias hereditárias para os filhos e os cumplices das armas. A demarcação do governo em quartel, através da indicação de diversos militares limitados para cargos ilimitados, faz parte desse plano messiânico de tomar o poder e “estabelecer” a “democracia” no Brasil, devastado pelo “socialismo”. Com apoio do e submissão total ao imperialismo neoliberal americano.
Para quem não se deixa tapar por suposições supositoriais e depois defecar asneiras transgênicas dia sim e dia não, é fácil perceber a que democracia se refere o bolsonarismo. O governo do chileno Salvador Allende, eleito democraticamente na urna, foi derrubado por um golpe militar de Augusto Pinochet, apoiado pela CIA e aclamado pelos EUA, em 11 de setembro de 1973, em nome da família e de Deus. O legado da “democracia” de Pinochet é mais de 4 mil mortos, mais de 30 mil torturados. Esse é o mesmo viés democrático da doutrina Truman em ditaduras sanguinárias no Brasil, na Argentina, no Paraguai, na Grécia, no Haiti, na Guatemala, na Nicarágua, no Camboja, no Vietnã, no Iraque, entre muitos outros países do leste europeu e da África. Todos países “fracassados”.
É justamente dentro dos ilibados ideais neoliberais de exploração do livre comércio e da expansão de mercados, que o governo democrático de Bolsonaro, o ignaro, guarda a sete chaves o plano Barão do Rio Branco, um projeto de habitar e explorar os recursos naturais da parte mais preservada da floresta amazônica, o planalto da Guiana, que fica entre o Amapá, Roraima e o norte do Pará e do Amazonas. O projeto Barão do Rio Branco prevê obras faraônicas e, claro, a permissão de uma invasão de conglomerados financeiros americanos, como grandes investidores que trarão empregos, ordem e progresso. No total, o plano de ocupação afetaria 27 terras indígenas e áreas protegidas da chamada Calha Norte.
Para o governo brasileiro as tribos indígenas, os ambientalistas e os quilombolas serão empecilhos, como também boa parte da mídia. Para tentar reverter esse quadro de devassidão socialista e entregar nossas riquezas e nossa biodiversidade para a economia americana, Bolsonaro levou para passear no parque, como bolsa de colostomia e “símbolo” da defesa ambiental, a indígena Ysani Kalapalo, uma youtuber, defensora do bolsonarismo, que fala em fake News sobre a Amazônia e os povos indígenas.
Sobre isso, 16 líderes de povos indígenas do Xingu, onde fica a aldeia de Ysani, assinaram uma carta de repúdio ao episódio. A Associação Terra Indígena Xingu (ATIX) diz que o governo brasileiro “ofende” ao ignorar as representações escolhidas pelos povos em conjunto. Um dos assinantes é o cacique Tukufuma Kalapalo, da tribo de Ysani. O trágico é que de forma cômica e no mesmo discurso, Bolsonaro diz que o índio Raoni é manipulado pela ideologia de esquerda. Se colar colou.
Por Marcos Leonel – Escritor e cidadão do mundo
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri