Tarde de sábado, agosto de 1995. Pouco sabia do amor. Os muros pichados e a ausência da fartura do mundo eram mais íntimos. Era seu primeiro momento, não sentia borboletas na barriga e nem sabia ao certo o que iria acontecer, mas desejava estar ali. Os encontros eram marcados por bilhetes datilografados, na verdade uma convocação sem flores e promessas.
Naquele ano não teve eleição. Nunca tinha votado, não entendia nada de política. Falavam de socialismo e neoliberalismo, expressões estrangeiras para quem não dominava nem o português. Foi naquele encontro, onde pensou que encontraria mil pessoas, para o seu estranhamento, tinha umas cinco. Dava para encher um fusca e fazer uma festa.
Depois daquele dia, a sua primeira vez, aquela relação foi ficando mais íntima e exigia um comprometimento maior, talvez tenha sido ali que começou a desabrochar e descobrir o sobre amor. Outro amor, não esse que estamos acostumadas a comprar nos supermercados e engolir como veneno para intoxicar a liberdade e a esperança. Não esse amor cheio de cercas e privações, de um outro amor, aquele em que a fartura do mundo seja casa sem dono e que as escolas ensinem a plantar felicidade e dividir a terra. São amores em guerra.
Antes daquele encontro, o trem já existia, pessoas tombaram, outras desistiram. O trem seguiu para algumas tardes de sábado. Tiveram sábados sem encontros, alguns choros, despedidas, outros caminhos, conquistas, derrotas, olhos brilhantes como diamantes carregados de alegria.
Os anos se passaram. Manter uma relação nunca foi fácil, as receitas estão todas fracassadas. Outro amor é possível, por isso, os comunistas se encontram.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, artista, educador e integrante do Coletivo Camaradas
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri