As mulheres que viviam presas em celas em uma clínica no Crato foram resgatadas, na noite desta quinta-feira (13), e levadas a um Centro Integral de Reabilitação no município do interior do Ceará. Ao longo da quinta-feira, após a prisão do diretor do local, parentes foram buscar parte das vítimas que estavam na unidade, mas algumas internas, principalmente as de municípios vizinhos, ainda permaneciam no local.
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Duas vans foram usadas para transportar as internas a um centro de reabilitação onde terão o acompanhamento de profissionais especializados. Durante a saída da clínica de repouso, uma idosa precisou de atendimento médico em uma ambulância, devido à saúde debilitada.
A medida é provisória, pois nesta sexta-feira (13) a Prefeitura do Crato entrará em contato com as cidades de origem das mulheres, para elas retornarem para as famílias.
As condições sub-humanas em que 33 mulheres viviam na clínica de repouso foram descobertas após a Polícia Civil ir ao local para prender o diretor, Fábio Luna dos Santos, de 35 anos, por abuso sexual contra duas internas. As investigações contra ele tiveram início após uma das vítimas entregar um bilhete para a irmã pedindo socorro (veja o bilhete abaixo).

Após constatar a situação em que as vítimas eram mantidas, o diretor também foi autuado em flagrante por cárcere privado e maus-tratos, além de ser suspeito de desviar o dinheiro das internas. Ele está detido na Delegacia de Defesa da Mulher. A defesa de Santos não foi localizada.
O resgate das vítimas na noite desta quinta foi feito por equipes do Centro de Referência da Mulher, com apoio da Polícia Militar e dos profissionais do Departamento Municipal de Trânsito e de Transportes (Demutran).

Portão sempre fechado
A clínica de repouso, de acordo com a Polícia Civil, funciona desde 2015 e abrigava internas com problemas psiquiátricos, que tinham entre 30 e 90 anos de idade.
Conforme o morador José Ailton de Oliveira Pires, que reside em frente a clínica, o local estava sempre com o portão fechado e a descoberta da polícia foi motivo de surpresa para todos da região.
“Todo o tempo era o portão fechado, ninguém nunca viu o portão aberto em momento nenhum. A gente ficou bastante surpreso com o acontecimento, porque na vista da gente e a gente sem ver”, afirma.
Bilhete com pedido de socorro
Uma interna da clínica onde 33 mulheres eram mantidas aprisionadas em celas, em Crato, no Sul do Ceará, denunciou a situação no local por meio de um bilhete. A vítima entregou a uma de suas irmãs uma mensagem, há cerca de duas semanas, em que pedia socorro e dizia estar sendo violentada.
A titular da DDM na cidade, Camila Brito, responsável pela investigação, disse que uma das mulheres pediu ao diretor da clínica para falar com a irmã e entregou o bilhete, secretamente. Familiares da vítima mostraram o bilhete à delegada e, a partir dele, as investigações começaram.

“”Diga à *** [irmã da vítima] que estou sofrendo abuso sexual. Manda ela vir me tirar. Manda ela fingir que não tenho nada. Para mim poder sair. Sou eu e minha amiga que ‘está ‘ sofrendo. Urgente. Me tire daqui. Manda ela pegar o dinheiro. Depois eu pago a ela, vem logo por favor “, escreveu a mulher mantida em cárcere e violentada em clínica.
“De imediato, nós orientamos que essas irmãs retirassem a vítima dessa casa, porque são familiares, então têm todo o direito de tirar a irmã de lá”, afirmou a delegada. Após a saída da mulher da clínica, ela prestou depoimento, o qual foi importante para que a Polícia Civil pedisse a prisão preventiva de Fábio Luna.
Segundo a delegada, a vítima não sofreu conjunções carnais, mas atos libidinosos, que também são configurados como crimes sexuais, quando não são permitidos pela vítima. Com o depoimento em mãos, a Polícia Civil pediu a prisão preventiva do diretor da clínica, decisão confirmada pela Justiça e com cumprimento realizado na manhã desta quinta. Ao chegar na instituição, Camila Brito afirma que a estrutura do local deixou a equipe policial “consternada”.
“O local não tinha nenhuma condição física de estar com aquelas 33 mulheres ali. Eram quartinhos parecidos com celas, minúsculos, cubículos. E elas ficavam trancadas de cadeado. O local era fétido, tinha mau-cheiro, não tinha ventilação, havia restos de comida dentro de baldes espalhados, cinco cachorros de médio porte, porcos. Realmente, uma situação lamentável que deixou toda a equipe consternada”, disse.
Segundo a delegada, com relação aos crimes de cárcere privado e maus-tratos, o suspeito disse que “o local era apropriado para elas porque elas tinham problemas psicológicos e tinham que ficar presas”.
Fonte: G1 CE










