NO CENTRO DA QUADRILHA DO CENTRÃO
O apoio de Bolsonaro à candidatura de Arthur Lira à presidência da Câmara não é mera coincidência, é a perfeição da perfídia ao próprio discurso do presidente em caos. Que o presidente é inconfiável, não só pelo fato de ter a mentira dolosa como uma ferramenta de conduta em seu aparato de caráter, mas também pelo seu aguçado senso de traição em se tratando da pátria, do povo, do eleitor e dos mais próximos, não é novidade nenhuma. A novidade também não é a facilidade com que o mandatário desmente a si próprio, desdizendo o que havia dito antes, com a mais absoluta falta de vergonha. Se houver pressão em cima da sua postura bandida ele manda qualquer um à puta que pariu e enfia lata de leite condensado até nele mesmo, se for preciso, se “for a regra do jogo”, como afirmou sobre o conluio com o Centrão, em meio às desonras da baixaria política. A novidade é o gado defender esse meliante ainda com a linguagem do teatro de campanha em que a corrupção foi vendida como o extermínio da corrupção. Eles defendem isso como se a privação da idoneidade fosse um surto universal, como se a realidade nunca fosse registrada como história, e ninguém tivesse acesso fácil aos fatos, sem montagens, sem memes, sem notícias falsas. É bem verdade que no mundo da política é quase isso. Acontece que seguindo os rastros paradoxais do maucaratismo em campanha, existe uma documentação vasta em que o Minto aponta o dedo da infâmia e acusa o Centrão de roubalheira, afirmando ser o bloco o “câncer” da política de bananas. Os ataques virulentos ao Centrão começaram a ser rotineiros quando o pulha, e ainda solto, Geraldo Alckmin, recebeu apoio do bloco. O ex-capitão ex-terrorista disparou com suas arminhas: está cercado “do que há de pior” da política brasileira. Veja o que o messias da iniquidade disse em uma entrevista para a famigerada Band, em julho de 2020: “as negociações com o centrão como forma de segurar a governabilidade deveriam acabar. Ou a gente quebra ou não quebra. ‘Ah, mas vão cassar seu mandato e pedir impeachment’. Não vai ser por omissão e nem corrupção. Esse é o recado que estou dando.” Mas a bravata era mais do que bravata, era a certeza plena que essa mentira seria desmentida por ele mesmo, com uma mentira muito maior. Como reagiu o miliciano às críticas dos próprios aliados sobre o acordão: “é necessário somar todas as forças para derrotar o PT. Eu prefiro deputados desses outros partidos do que do PT. É uma questão que interessa pra mim e o apoio tem vindo. Eles têm ajudado e se sentem prestigiados. São mais de 30 mil cargos, eu não tenho como ter acesso a tudo isso. Então a gente conversa e troca essas pessoas sem problema nenhum”. Na ocasião em que a pocilga ideológica que está sempre pronta para virar bacon do Minto, se esperneava se dizendo traída pela indecente quebra de promessa eleitoreira de se aliar ao bando do Centrão em toma lá, dá cá, por sustentabilidade política, o mandatário mentiu mais uma vez e garantiu que essas indicações passam “por um sistema de informações” e pesquisas sobre “a vida pregressa” dos apadrinhados. Como diria Lima Barreto, genial escritor negro brasileiro, vítima de racismo a vida toda: a Bruzundanga é a maior invenção da criminalidade, com atualizações feitas com uma sucessão de sucessos.
O CENTRÃO NO CENTRO DO ERÁRIO PÚBLICO
O governo Bolsonaro é uma grande negociata. O brasileiro é uma grande negociata para o Brasil. Qualquer governo brasileiro da velha política será sempre uma negociata de véspera. O Centrão é a véspera de toda véspera de toda negociata que envolve qualquer governo brasileiro, que nunca tenha intenção de devolver o Brasil aos brasileiros. O método é simples: pilhar grosseiramente. A negociata de Bolsonaro com o Centrão é uma grande pilhagem, uma das maiores da história das negociatas e das pilhagens. Não se trata de governabilidade, mas sim de blindagem, de proteção, para não perder o mandato, para não ir para prisão e ter a companhia dos filhos ao lado. O termo “centrão” começou a ser utilizado durante a Assembleia Constituinte de 1987. Um grupo de centro e de direita uniu-se para apoiar o então presidente José Sarney, um dos maiores pilhadores do patrimônio público desde Cabral, contra as investidas progressistas lideradas por Ulisses Guimarães. O Centrão tem origem no conservadorismo da dilapidação do dinheiro do povo. São políticos que apoiavam a ditadura e com a abertura política formaram partidos de canalhas. O Centrão é um bloco de partidos fisiologistas. Trocam apoio por cargos. Não existe compromisso político que vá além de se manter no poder e se manter dilapidando. Apoiam até uma pulga cheiradora de bufa de cachorro, se tiver indicação para horda inteira. O Centrão atual passou a ter destaque a partir de 2014, quando, sob o comando de Eduardo Cunha (MDB-RJ), atuou para elegê-lo presidente da Câmara dos Deputados. Atualmente, ele é formado por parlamentares do PP (40 deputados), Republicanos (31), Solidariedade (14) e PTB (12). Este seria o “Centrão oficial”, mas, em certos momentos, são somados o PSD (36 deputados), MDB (34), DEM (28), PROS (10), PSC (9), Avante (7) e Patriota (6). Vários integrantes do Centrão estão na cadeia ou em prisão domiciliar como Cunha, Roberto Jefferson e Cabral, outros tantos respondem processos, inúmeros estão sendo investigados e todos se valem da imunidade parlamentar e todos temem o futuro atrás das grades. Bolsonaro está disponibilizando o gerenciamento de mais de 100 bilhões para o Centrão. Todas as nomeações em qualquer esfera do governo implicam em gerenciamento de verbas, muitas verbas. Caroline Oliveira, em reportagem para o sítio Brasil de Fato, faz o seguinte levantamento documentado: “No Ministério da Educação, Garigham Amarante Pinto foi nomeado para a Diretoria de Ações Educacionais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), cujo orçamento é de R$ 55 bilhões. Pinto tem como padrinhos políticos o deputado federal Wellington Roberto (PL-PB) e Valdemar Costa Neto, ex-deputado federal e ex-líder da sigla por 13 anos. Para o Ministério de Desenvolvimento Regional, o líder do Partido Progressista, Arthur Lira (AL), e o senador da sigla, Ciro Nogueira (PI), apadrinharam Tiago Pontes de Queiroz para a Secretaria Nacional de Mobilidade, que será o gestor de um orçamento de R$ 17,2 bilhões. No Departamento Nacional de Obras Contra Seca (Dnocs) do ministério, Fernando Marcondes Araújo Leão, por indicação também de Lira e do deputado Sebastião Oliveira (PL-PI), irá administrar um fundo de R$ 1 bilhão. Para a Superintendência de Trens Urbanos do Recife, Carlos Fernando Ferreira da Silva Filho vai gerenciar R$ 1,1 bilhão, por indicação do líder do Partido Social Cristão na Câmara (PSC), André Ferreira (PE). Juntas, somente as quatro indicações do centrão irão gerenciar R$ 74,6 bilhões em recursos públicos, sem contar as nomeações para o Conselho da Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional do ex-ministro do governo de Michel Temer, Carlos Marun, e o ex-deputado federal, José Carlos Aleluia (DEM-BA), citado na delação da Odebrecht”. Já são mais de 300 nomeações, sendo que boa parte dos indicados tem folha corrida muito bem nutrida com goma de mascar e leite condensado.
ARTHUR LIRA É CENTRO DE ACUSAÇÕES
Para se livrar do impeachment, bem como salvar a prole miliciana das garras suspeitas da justiça, o presidente em caos aposta as fichas na eleição de Arthur Lira, seu candidato à presidência da Câmara, um dos cargos mais importantes do sistema governamental brasileiro, hoje ocupado por um crápula, Rodrigo Maia. A Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2020 previu um orçamento total de R$ 6.265.128.269,00, para a instituição. Além dessa verba nababesca o presidente da Câmara tem muito poder, a ponto de definir o destino de um presidente, bem como gerenciar pautas que impulsione uma gestão ou imploda qualquer mandato. O banditismo tem dominado esses corredores obscuros do sistema político brasileiro. Arthur Lira tem esse perfil: graduado em falcatruas e doutorado em dissimulação legalista, com tese repleta de patifarias. O jornalista Jorge Vasconcelos, em matéria para O Correio Brasiliense, registra as informações devidamente documentadas: “O deputado Arthur Lira (AL), líder do PP e do Centrão, é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de ter comandado um esquema de rachadinha quando cumpria mandato na Assembleia Legislativa de Alagoas. Segundo denúncia dos procuradores, noticiada pelo jornal O Estado de S. Paulo, o político movimentou ao menos R$ 9,5 milhões em esquema que desviou R$ 254 milhões dos cofres públicos de 2001 a 2007. Conforme a acusação do MPF, o parlamentar cometeu crimes de peculato e lavagem de dinheiro ao liderar um grupo criminoso que incluía funcionários fantasmas na folha de pagamento do Legislativo alagoano. O esquema, que consistia na simulação de negociações e empréstimos para justificar a movimentação financeira nas contas pessoais dos envolvidos, teria acontecido quando Lira comandava a Primeira-Secretaria da Assembleia e era responsável por administrar os recursos. O político foi condenado em 1ª e 2ª instâncias em uma ação cível por improbidade administrativa pelo mesmo caso, em Maceió. De acordo com a lei, essa condição o impediria de concorrer a deputado federal em 2018. Mas uma liminar do então vice-presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL), Celyrio Adamastor, suspendeu os efeitos da decisão em 2ª instância, beneficiando o parlamentar.” Esse é o Brasil acima de tudo e deus acima de todos, onde o gado pasta, a boiada passa e o Supremo atalha, aboiando “Noite Feliz”. Arthur Lira ainda é acusado de receber propina. Em matéria para O Correio Brasiliense a jornalista Alessandra Azevedo registra essa narrativa de corrupção passiva: “A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), novo aliado do presidente Jair Bolsonaro no Congresso, por corrupção passiva. Um dos líderes mais influentes do chamado centrão, o parlamentar teria recebido propina de R$ 1,6 milhão da empreiteira Queiroz Galvão, no âmbito da Operação Lava Jato, diz a denúncia. A empreiteira teria feito o repasse para garantir que o PP, partido liderado por Lira na Câmara, apoiasse a manutenção do então diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que foi preso em março de 2014, quando a Lava Jato foi deflagrada. A PGR alega que funcionários do doleiro Alberto Youssef teriam feito o pagamento da propina, em dinheiro vivo, para um assessor do deputado.” Com certeza essas acusações contra o terrivelmente honesto candidato do presidente em caos serão legalmente colocadas para debaixo do tapete onde a sociedade brasileira, em sua maioria, senta nas beiradas mendigando uma colherinha de leite condensado.
O CENTRO CONDENSADO DAS CONTAS PÚBLICAS
O já histórico caso de corrupção das despesas do governo bolsolavista conta com um episódio peculiar. Além da lista de produtos escabrosos, do superfaturamento descarado, da irritação grotesca do Minto Condensado, o episódio burlesco conta com mais uma atitude ordinária da grande imprensa, justamente nos momentos que antecedem a eleição da presidência da Câmara. A cortina de fumaça apontou para uma curiosidade pitoresca e acertou numa situação burlesca de puro banditismo. Pouco importa quantas latas foram enfiadas ou quantas foram degustadas pela escória. O que importa mesmo é como a roubalheira foi armada, mas isso não tem interesse para os grandes monopólios da informação, pois mexe com muita gente que mexe com muita coisa. É o lado mais barra pesada da turma do fundão, sem trocadilhos. É comum em transações espúrias como essa, uma pequena empresa ser utilizada para grandes faturamentos, tendo até então negociado pequenos contratos e recebido por isso. O CNPJ dessas empresas é utilizado à revelia em contratos de grandes quantias, milionárias quantias. São negócios obscuros e que ficarão na obscuridade até que alguém faça a exumação da prova do crime. Veja o levantamento feito pelo sítio de notícias GGN: “A dona da empresa que vendeu o leite condensado é Azenate Barreto Abreu. Ele á mãe de Elvio Rosenbergf da Silva Abreu Junior, dono da DFX Comércio e Importação Eirelli, uma pequena empresa que tem como atividades desde o comércio varejista especializado em eletrodomésticos e equipamentos de áudio e vídeo, e mais 20 atividades secundárias. No Boletim do Exército no. 35, de 4 de setembro de 2009, Élvio aparece como Segundo Tenente da 11a Região Militar. A esposa de Élvio é Cynthia Nascente Schuab Abreu, que também contrata com o governo, 2 empresas com o governo e uma com as Forças Armadas. Uma de suas empresas é a JSA Soluções e Comércio de Equipamentos Eirelli. Outra é a Schuab Abreu Engenharia e Soluções Eirelli. Assim como a empresa do marido, apesar de ser uma eirellei, tem na razão social quase duas dezenas de atividades. No pregão eletrônico no. 2/2019, para aquisição de material de manutenção de bens imóveis para o Batalhão da Guarda Presidencial, a PSA conseguiu um contrato de R$ 3.374.110,00. No Portal da Transparência, a Schuab Abreu Engenharia já recebe R$ 7.132.350,52. Os contratos vêm desde 2014 e o comprador é o Fundo do Exército, em geral para a área de manutenção.” Em contato do sítio GGN com um representante da empresa ele afirmou que não fechou esse contrato de milhões e só vendeu duas caixas de leite condensado. Essa é uma crônica de um crime anunciado. O exército e as forças armadas permanecem em silêncio. Além do desgaste político de participar de um governo genocida, ainda pairam situações graves como tráfico de cocaína em avião presidencial, desvio de munições, superfaturamentos na produção de cloroquina, Pazuello investigado pela colaboração em genocídio, manipulação de registros de armas e agora pudins e confeitarias condensadas. O gado já se lambuzou com o leite condensado, só está esperando a ordem para saber o que fazer com as latinhas.
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