Nós vivenciamos o império das caricaturas. Somos caricaturas de nós mesmos, acreditamos em caricaturas e lutamos por caricaturas de forma absurdamente intenstina. As atas das eleições da Venezuela são as mais novas caricaturas viralizadas.
Pouco interessa, de fato, o sofrimento dos abandonados da Venezuela. Ninguém se interessa com os refugiados, os deslocados, os imigrantes venezuelanos, pouco importa quem os está matando aos poucos. Essa distopia é filha da caricatura da democracia. A direita, a esquerda e os extremos, são escandalosas caricaturas.
Ninguém tem o direito de intervir nas eleições da Venezuela a não ser eles mesmos. Pedir atas, em nome de países democráticos, é bandidagem chula, é sordidez política da ralé. Qual desses países tem algum programa compulsório para acabar com a fome dos venezuelanos? Nenhum. Incluindo a caricatura do governo brasileiro.
Não existe nada mais seboso do que os Estados Unidos e a cúpula da Europa declararem a vitória da oposição de Maduro. Ninguém questiona a ditadura de Zelensky na Ucrânia, que assumiu o poder através de um golpe militar financiado pelos Estados Unidos. Ninguém questiona o nazismo ditatorial de Viktor Orbán na Hungria, financiado pelos americanos e pela OTAN.
Todos eles apoiam o extermínio da máquina de guerra de Israel contra palestinos. Ontem, outra escola foi bombardeada. Quem chora pelas crianças mortas, ontem. Quem vai chorar pelas crianças que irão morrer hoje ou amanhã? As atas das eleições venezuelanas interessam muito mais, elas fazem parte dessa máquina de moer a dignidade humana.
Quem se importa com as sanções econômicas impostas à Venezuela pelos Estados Unidos, sanções essas que fazem crescer estupidamente o estado de miséria do povo venezuelano, criando milhares de imigrantes venezuelanos pelo mundo, sem serem recebidos por ninguém, que são obrigados a se infiltrarem nos países alheios, como pulgas nos pets de estimação daqueles que lucram exorbitantemente, como Musk e Trump?
Quem se interessa pela verdade, se a mentira é mais fofa e próxima de Deus? Quem se importa com alguma espécie de legalidade, se o crime compensa? O que importa no momento é ser vira-lata, delinquente intelectual, e defender o direito dos americanos privatizarem a Venezuela e colocarem bases militares na América do Sul, como se aqui fosse a América Latrina deles.
O que importa agora é ser caricatura de poder. É ser pastiche religioso. É ser arremedo de honesto, de profundamente preocupado com a democracia. Ser estúpido e pateta gera engajamento nas redes sociais. O que viraliza hoje é ser urubu se fazendo de morto para poder entrar no lixão do céu.
Por Marcos Leonel – Escritor e cidadão do mundo
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri