A Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Kariri passa por um instante doloroso, desde o acidente com a criança Bruno Feitosa, no último dia 25. Toda solidariedade à família de Bruno parece ainda ser pouca. E é. Toda solidariedade à essa sua grande família social, seus irmãos e irmãs da Casa Grande, também. Alemberg Quindins construiu com Rosiane Limaverde aquela Casa: grande, sólida e solidária, de modo a não sabermos mais quem são os criadores e a obra. E assim tem de ser. Fica o exemplo, como está em Mateus 5, de não se acender uma candeia senão para o velador, “para que dê luz a todos da casa”. Para deixarem resplandecer sua luz a outros homens e mulheres, e assim sejam vistas suas obras. Miremos nos exemplos.
A Fundação Casa Grande é e será sempre casa, chão, mesa, alimento social de centenas de crianças do Cariri, de homens e mulheres hoje plenos e plenas, no mundo, exemplos desse saber de experiências feito, desse zelamor em vida transformado. De abandonos trocados por abraços.
Este artigo é para dar esse abraço às duas famílias de Bruno. Ao seu pai, sua mãe, e a Casa-Mater, sua família social, a Fundação, imensa, Casa Grande, num abraço frater em Alemberg Quindins e todos habitantes dessa nação-Fundação.
Sei, e sempre soube, e soube mais agora: há as hienas. Elas estão nesses purgatórios sociais, as “redes”. Nos infernos que são os outros, como diria Sartre. Têm o privilégio da covardia, dos perfis falsos, sob certa “ficção de heroísmo” ou “afã justiceiro”, expressões de Ortega Y Gasset, prática comum a esse autoritarismo de milhões de cabeças, pra profanar exemplos e propalar seu discurso do ódio, suas “narrativas”. Nunca as palavras estiveram tão carentes do conhecimento. Elas perderam o significado no meio desse projeto de transformar opiniões e “convicções” em “verdades”, fatos falsos em questões fundamentais. Fundamentalistas. De ocasião. “O fascismo começa […] como uma determinada maneira de falar, de formular os problemas”, diz Jean Baubérot, historiador francês contemporâneo. Ele está certo. E já vimos onde certas convicções e julgamentos levaram a humanidade. Falo dos fatos ocorridos no ano 33, onde não um homem, mas a multidão sentenciou outro Homem e seus exemplos. Que não seja seu esse reino das doxas, das opiniões, caro leitor, caríssima leitora. Mas o do conhecimento. E não o da indiferença à dor alheia. Mas o da solidariedade.
A Fundação Casa Grande é e será sempre casa, chão, mesa, alimento social de centenas de crianças do Cariri, de homens e mulheres hoje plenos e plenas, no mundo, exemplos desse saber de experiências feito, desse zelamor em vida transformado. De abandonos trocados por abraços. Repito.
Não abandonaremos essas crianças, nem a memória de Bruno, nem a de Rosiane, nem a desse tesouro comum e social que é a Fundação, nem deixaremos de abraçar Alemberg, porque estamos prontos para erguer a candeia acima da tolice dos oportunistas, discordando dos místicos alguns que dizem de as sombras serem também luz. Não são. Elas são mais a escuridão. Deixemos a escuridão com a escuridão, caro leitor, caríssima leitora.
Este artigo é sobre a luz.
Por Sidney Rocha, Dr.h.c., escritor
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri