Há alguns anos, Sérgio Mamberti decidiu escrever sua biografia para comemorar a chegada dos 80. Com trajetória artística e pessoal memorável, o trabalho foi além do planejado. Precisou de mais tempo e auxílio. Então, em abril, quando o veterano completou 82 anos, o livro Sérgio Mamberti: Senhor do Meu Tempo, chegou às lojas pela Edições Sesc. Na obra, entre narrações da carreira, ele registrou uma declaração de amor a Vivian Mehr, sua mulher, e Ednaldo Torquato, seu parceiro. “Não adianta esconder”, resume ele sobre a bissexualidade.
A biografia de Mamberti se inicia na infância do ator com lembranças da família em Santos, litoral de São Paulo. Dos pais, ele herdou a cultura e a sede pelo trabalho. Aos 15 anos, para aprimorar sua habilidade em línguas –ele fala cinco idiomas–, se matriculou na Aliança Francesa.
Lá, integrou um grupo de teatro com os amigos adolescentes. E de uma despretensiosa apresentação de 20 minutos, saiu do palco certo de que havia encontrado sua vocação. Desde então, ele se aprimorou na dramaturgia.
A carreira, aliás, é o norte de toda a narrativa em suas memórias. Pode-se dizer que o título conta a história da cena teatral de São Paulo pelos olhos e experiências do escritor. Entre os relatos, muitos nomes consagrados da televisão, como Fernanda Montenegro, que assina o prólogo do livro, e Gilberto Gil, que escreveu a orelha.
Entre suas memórias, há a vez em que acolheu José Wilker (1944-2014) em sua casa. Ele estava dormindo na areia da praia, no Rio de Janeiro. Há também a ocasião em que se aventurou como sacoleiro com roupas de grife trazidas da Europa. Hebe Camargo (1929-2012) era sua melhor compradora. As vivências de Mamberti seriam um prato cheio para o Que História É Essa, Porchat?, do GNT.
No teatro, se realizou com montagens como O Balcão, do francês Jean Genet (1910-1986) –em uma releitura feita em 1968 que remetia aos desmandos da Ditadura Militar (1964-1985)– e Réveillon, que lhe rendeu o Prêmio Molière de melhor ator em 1975. Claro, há muitos outros. “Tenho uma longa carreira recheada de alguns personagens que fizeram muito sucesso”, comenta.
Na televisão, se consagrou com o mordomo Eugênio em Vale Tudo (1988). Na reta final da novela, era apontado nas ruas por sua fama e por ser um dos suspeitos de matar Odete Roitman, personagem de Beatriz Segall (1926-2018).
Mas o trabalho mais marcante é, sem dúvidas, o doutor Victor, do Castelo Rá-Tim-Bum (1994-1997). O bordão “raios e trovões” do tio de Nino (Cassio Scapin) é requisitado até hoje por onde ele passa. “Digo que é minha obra-prima porque une educação, cultura e comunicação”, declara.
Entre as narrações de uma vida nos palcos, televisão, cinema, e uma longa passagem pelo Ministério da Cultura –a militância no PT também está na biografia–, Mamberti confidencia ao leitor momentos íntimos. Aqueles que desenham a personalidade da pessoa além do ator.
Vivian, sua melhor amiga que virou um grande amor, figura em cada capítulo. Pelas palavras do intérprete, é possível captar como a atriz foi o motivo do brilho em seus olhos. Com ela, o veterano teve três filhos — Eduardo, Carlos e Fabrício– nos 18 anos de união, entre namoro e casamento. Lamentavelmente, ela morreu em 1980 muito jovem, aos 37 anos.
Viúvo, o artista confessa que padeceu no luto. Levou anos para sentir que estava renascendo. A dedicação à política e aos palcos o tiraram da sensação de vazio. Quando viajava pelo Brasil com uma peça de teatro, algo não planejado aconteceu. Ele, que conversava sobre bissexualidade com a mulher, encontrou um parceiro quando menos esperava.
Mamberti viveu uma vida com Ednaldo Torquato. Foram 37 anos juntos em uma relação de cumplicidade, respeito e carinho. Para a família e amigos, não havia segredo. Ed, como era chamado, não era um amigo. A ele, sempre foi dado o devido título.
“Como é que eu ia esconder dos meus filhos que eu estava com um companheiro, sendo que ele morava comigo?”, explica ele. Com o parceiro, o ator adotou Daniele, sua única filha mulher. Ed morreu em 2019, aos 62 anos, outra grande tristeza do ator.
“Sei que nunca vou me recuperar dessas duas perdas, mas a vida exige coragem e esperança para seguir em frente”, escreve ele em seu livro a respeito do luto por Vivian e Ed.
De fato, ainda há muito a viver. Depois do lançamento da biografia, ele tem mais projetos. Entre eles, um longa-metragem e um documentário sobre sua carreira e, talvez, o principal anúncio: uma série para a internet com seu personagem mais famoso, o doutor Victor, do Castelo Rá-Tim-Bum.
Em entrevista para o Notícias da TV, Mamberti compartilha as novidades que estão por vir e fala abertamente sobre seus casamentos, como um convite para o público mergulhar nas quase 400 páginas de Sérgio Mamberti: Senhor do Meu Tempo, da Edições Sesc.
Leia a entrevista na íntegra com Sérgio Mamberti
Fonte: Notícias da TV