O edital para o Festival ‘DendiCasa’, anunciado pelo Governo do Ceará, tem sido alvo de críticas por parte do Sindicato dos Médicos do Ceará. Ao todo, R$ 1 milhão, oriundos do Fundo Estadual da Cultura, serão distribuídos a artistas para a produção de conteúdos a serem exibidos gratuitamente na internet durante o período de quarentena por conta da pandemia do coronavírus. Contudo, para o presidente do sindicato, Edmar Fernandes, esse dinheiro deveria ser destinado para a Saúde.
Uma campanha do Sindicato dos Médicos nas redes sociais tem motivado embates entre a entidade e artistas. Na perspectiva de Fernandes, está havendo “desvio” do recurso, que deveria ser destinado à Saúde devido ao momento de calamidade pública no estado. “Todos os recursos e todas as estratégias tanto do governo como das prefeituras têm que ser voltadas a ações de combate ao coronavírus”, afirmou.
Segundo ele, a crítica não é sobre “para quem está sendo direcionado este edital”, mas sim quanto ao “desvio desse dinheiro, que era para estar sendo usado na Saúde”. Em vídeos publicados nas redes sociais do sindicato, é também feita uma associação entre o déficit de materiais de proteção para profissionais de saúde, por exemplo, e o edital lançado.
Contudo, afirma a Secretaria de Cultura do Ceará (Secult-CE), não há nenhuma relação entre os dois fatos. “O edital conta com recurso originário do Fundo Estadual da Cultura, que agrega um orçamento que deve ser investido necessariamente na política cultural do Ceará. Não há, portanto, nenhum tipo de concorrência com os recursos da Saúde”, diz, em nota.
Lançado ainda em março, o edital tem como proposta amenizar os impactos econômicos causados pela pandemia do novo coronavírus. Quatrocentos projetos artísticos serão selecionados, tanto na capital cearense como interior. Cada projeto aprovado irá receber R$ 2,5 mil.
“Ele está ligado à manutenção de investimentos no campo da arte e da cultura, que conta com em sua maioria trabalhadores informais e autônomos. O edital é, assim, um gerador de renda e reparador econômico para empresas, microempresas, artistas, produtores e técnicos culturais”, acrescenta a Secult-CE.
Dificuldades
Artistas relatam que inúmeros trabalhadores da cultura estão sem remuneração durante a quarentena, já que apresentações, shows e espetáculos foram cancelados ou adiados. “O que deixa a gente muito indignado é porque é impossível que eles não soubessem que estes recursos só podem ser utilizados na Cultura”, afirma a diretora e professora de teatro, Herê Aquino. Ela integra o Fórum de Teatro no Ceará, um das entidades a assinar carta de repúdio à campanha feita pelo Sindicato dos Médicos.
Segundo Aquino, as publicações contrárias à realização do Festival ‘DendiCasa’ continuaram a ocorrer nas redes sociais do sindicato mesmo após as explicações da classe artística sobre a origem dos recursos. “A Saúde tem que estar bem amparada, mas não se pode usar isto como desculpa para atacar a Cultura”, ressalta.
Críticas
Sobre a necessidade de suporte econômico a classe artística, Edmar Fernandes reconhece que há uma crise econômica e cita que pequenas e micro empresas, por exemplo, estão tendo, inclusive, que demitir funcionários. “O caos é geral, é em todas as categorias. Não queremos desmerecer, mas não posso pensar em mim, quando o meu irmão ou o meu amigo está morrendo”, afirma.
Já quanto ao fato de que o dinheiro destinado ao edital é de um Fundo que deve ser destinado à cultura, o presidente do Sindicato dos Médicos afirma que, “em um momento de calamidade”, é natural retirar recursos de uma secretaria para outra dentro do governo, mas diz que não é contra nenhuma ação voltada à cultura no estado.
Fonte: G1 CE