O mundo tem sede. A demanda por água só cresce, reflexo do aumento populacional e o incremento dos novos modelos de consumo, a degradação dos geossistemas como tônica da vida moderna, pautada na ótica do consumo pelo consumo. O dispêndio da água desde a década de 1980 cresce cerca de 1% ao ano, segundo relatório da ONU. O estresse hídrico é uma certeza, pois paralelo a isso não existe nenhuma possibilidade de reposição hídrica com os mesmos número do crescimento.
O futuro não é promissor: a demanda mundial por água vai crescer em torno de 40% até 2050 e a reposição da água não vai chegar a 9% no mesmo período. A escassez de água no mundo é agravada em virtude da desigualdade social e da falta de manejo e usos sustentáveis dos recursos naturais. De acordo com os números apresentados pela ONU – Organização das Nações Unidas – fica claro que controlar o uso da água significa deter poder. As diferenças registradas entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento chocam e evidenciam que a crise mundial dos recursos hídricos está diretamente ligada às desigualdades sociais. Em regiões onde a situação de falta d’água já atinge índices críticos de disponibilidade, como nos países do Continente Africano, onde a média de consumo de água por pessoa é de dezenove metros cúbicos/dia, ou de dez a quinze litros/pessoa. Já em Nova York, há um consumo exagerado de água doce tratada e potável, onde um cidadão chega a gastar dois mil litros/dia. Nosso planeta é coberto por 70% de água, mas como bem sabemos 97,5% dessa água é salgada, e sobram menos de 3% para teoricamente utilizar. Se considerarmos ainda as geleiras e águas em locais de difícil acesso ficamos apenas com 0,4% utilizáveis. Quando falamos em utilizáveis, é para tudo. Seja na produção agrícola, criação de animais ou produção de energia, água é vida. E como tudo o que falta gera disputa, a guerra pela água começou a muito tempo. O fato da água estar localizada ou concentrada em determinadas fronteiras, incita conflitos regionais.
Um país como o Brasil é rico em fonte de água detém quase que 80% dos o,4%, mas não está fora da lista da crise hídrica mundial, e temos recentes eventos que preocupam. O uso indiscriminado colocou a população de São Paulo em falta de água por longos dias. No entanto, a crise hídrica no Brasil foi atribuída aos longos períodos de estiagem. O fato é que os municípios tiveram de aderir a medidas restritivas a fim de inibir o uso indevido. A falta de água em São Paulo na verdade começou com a baixa nos reservatórios em 2013 e 2014, mas só se mostrou de verdade em 2015. A pior crise dos últimos 80 anos. A crise do estado de São Paulo atingiu 13,7 milhões de pessoas em 68 municípios e a capital. Praticamente todos os municípios aderiram a medidas de racionamento. Mas o pior nessa situação é saber que não estamos livres de novos eventos como esse. Depois do olho do furação que o estado enfrentou o consumo de água pelas famílias foi retomado acima do esperado. Na semana passada nos deparamos com um novo relatório elaborado pelo World Resources Institute (WRI) que aponta o estresse hídrico em três cidades nordestinas: Juazeiro (BA), Petrolina (PE) e Juazeiro do Norte (CE), núcleos urbanos localizados em regiões apontadas como “ricas” em água, ledo engano, são áreas com estresse hídrico – também chamado de escassez hídrica física, termo utilizado para designar uma situação em que a demanda por água é maior do que a sua disponibilidade e capacidade de renovação em uma determinada localidade. A perfuração de poços profundos sem a mínima regulação e fiscalização por parte do poder público e a cupidez dos mais abastados financeiramente contribuem de maneira direta para o problema real.
Durante a conferência de Estocolmo 1972 o alerta foi feito e o Corolário Bruntdland com a proposta da sustentabilidade previa toda essa situação. Mas a sociedade que é regida pelo consumo desenfreado e pela ostentação deliberada nada teme, agora vai pagar de maneira direta e com consequências graves a existência e vivencia nestes locais. Continuemos construindo áreas de auto exclusão na borda do velho chico e piscinas e parques aquáticos no Cariri cearense sem dessossego. Assim pagaremos caro por essa idiocracia da sociedade das quinquilharias aparentes do bem estar.
Por Sandro Leonel. Um kaririense inquieto
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri