A lua não está ao alcance das mãos. O verso do amanhã se faz do concreto, das disposição dos tijolos, de mãos e pernas firmes para fazer estradas. A palavra de ordem afronta a realidade, mas é preciso transformar, só um verso é insuficiente, só poemas não bastam.
Já se dividimos, podemos nos perder. Na rua a fome se desentenderá do poema. É preciso unir fome e poema.
Os famintos precisam de comida, agora. A palavra precisa ser comida com arroz, feijão e punhos erguidos.
A revolução não estará nos livros, nas receitas prontas, no desejo mais intenso, no discurso apaixonante. É preciso mais que ideias, é sempre mais que o poema.
É preciso conjugar verbo ampliar. Atravessar os caminhos se molhando, se sujando, criando calos, abrindo feridas, sagrando, misturando, incomodando, ampliando as mãos de fazer versos, muralhas e de multiplicar a comida e a esperança.
No canto, rezando contra as dores do mundo ou no palanque dos pares, o amanhã será adiado.
O poema não antecede a vida. Trataremos de colocar a lua nas nossas mãos.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, artista, educador e integrante do Coletivo Camaradas
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri