Ficar calado durante o depoimento à Polícia Federal é uma estratégia típica da valentia dos covardes. No universo paralelo do fascismo bolsonarista isso tem a mesma envergadura moral de Daniel Alves, com sua desculpa vagabunda de estuprei porque estava bêbado. Os dois vestem a mesma camisa da seleção brasileira.
Ficar calado; dizer que não tomou o remédio; que estava sob o efeito de drogas; dizer que não autorizou ninguém; jogar no colo do otário; “cancelar” o cpf; “operar” um preto favelado; dizer que não quis dizer, que está descontextualizado; tudo isso faz parte da mesma oração, do mesmo culto, da mesma bíblia surrada debaixo do sovaco, da mesma ralé, que mente para converter burro em gado.
O autoproclamado “merda”, em som e vídeo reunidos no mesmo golpe, pensa que ficou calado. A sua estreiteza de raciocínio lógico aceitou essa trama da defesa que advoga para o rei mentiroso das terras planas, o senhor dos vigaristas, o mestre das lambuzadas épicas. Sendo assim, seria ilógico se não se constatasse: é pura pilantragem.
O silêncio de Bolsonaro vale ouro, retirado dos garimpos ilegais das terras indígenas invadidas pelas milícias do agronegócio. Esse é um silêncio falastrão, daqueles que debocha de quem está morrendo sem fôlego, vítima do vírus potencializado pela cloroquina. São palavras surdas, que fizeram nascer a filha da fraquejada e o rejeitado 04, que estreia no mundo do crime já com agenda lotada.
Bolsonaro disse, sem querer dizer, pateticamente calado em esgoto esplêndido, às margens plácidas da escrotidão, que tramou mesmo o golpe, e daí!? Disse ele em palavras mudas, que fraudou o cartão de vacina, de forma reles, de pura postura rastejante, e que, entre a propina de uma privatização ilegal e outra, investigou milhares de opositores só para ver se o golpe pegava no tranco, e daí!?
Bolsonaro se calou, fazendo a maior zoada, sobre como humilhou as forças armadas e como armou as forças humilhantes das milícias. Disse em linguagem de sinais que a sua fortuna está bem guardada nos paraísos fiscais, muito mais significante do que um punhado de joias e relógios, que só se apropriou para não perder o costume. Ele só não se calou sobre a cegueira do poder judiciário e sobre os próximos escândalos de pilantragens, pois isso é muito visível. Tá na cara.
Por Marcos Leonel – Escritor e cidadão do mundo
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri