O tempo é um arquiteto que testemunha seus próprios feitos. Nada melhor do que as construções e destruições do próprio ser social para tecer aquilo que conhecemos como história, uma vez que a realidade é feita de ações e protagonismos, muito embora nem tudo que se realiza é de conhecimento de todos, nem precisa.
Quando eu encontrei Alemberg Quindins e Rosiane Limaverde (em memória) depois de um bom tempo sem nos ver, me deparei com os dois muito entusiasmados com a ideia de criar um espaço para contar a história do homem kariri. Depois disso eu testemunhei todo o empenho, todo o esforço e o enfrentamento dos desafios diversos dos dois em levar seus objetivos em frente.
Participei e abracei esse projeto logo no início. A Casa já era Grande em seus propósitos, mas ainda era modesta em suas instalações, quando ministrei um breve curso sobre a influência direta da música nos movimentos da civilização. Tratamos de arte, criação, produto, moda, autoria, reprodução, originalidade, comportamento, mídia, mercado e construção do conhecimento. O público era de crianças e adolescentes. Eram todos ávidos, eram todos atentos.
A maior experiência que eu tive com o casal, depois desse encontro mais duradouro, não foi testemunhar a sequência da construção da Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, suas instalações, seus equipamentos, seus acervos, seu prestígio socio educacional reconhecido mundo afora por autoridades no assunto, bem como suas parcerias com outros construtores de futuros, aqui e fora do Brasil.
A minha maior experiência e impagável satisfação foi testemunhar a transformação daquelas crianças e adolescentes que estavam naqueles encontros, em cidadãos e cidadãs conscientes, sabedores da necessidade de existir com dignidade e responsabilidade para com o outro. É óbvio que minhas palavras se juntaram a outras inúmeras ações psicopedagógicas vividas por essas pessoas na Casa Grande, que construíram uma transformação social do ser.
Também é óbvio que falo do imaterial, pois nunca se tratou de outra coisa a não ser proporcionar perspectivas e leituras de mundo para quem já tem o bem pouco. Nem mesmo o falecimento precoce de Rosiane Limaverde foi capaz de abalar o propósito de construir, de habilitar, de se responsabilizar diretamente pela transformação social de muitos. Uma coisa é construir estradas, monumentos, prédios sofisticados. Outra coisa completamente diferente é mudar a vida das pessoas através dos rumos.
Sinto orgulho de fazer parte desse projeto, onde quer que eu esteja ou com quem eu esteja. Aliás, o ser e o estar são dois fenômenos que revelam a trajetória de qualquer um. Isso faz com que o meu senso de pertencimento e meus reflexos identitários me garantam nessa construção de civilidade, mesmo sendo por intermédio de uma interação nos princípios, mesmo assim eu sou homem kariri, integralmente.
Por Marcos Leonel – Escritor e cidadão do mundo
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri