Foi uma aluna do primeiro ano F turma da noite 1 que me falou que sua filhinha gostava muito de lê. E de repente me veio à lembrança do quanto isso é importante em nossas vidas, na vida dos nossos pais e do país. A criança que lê é diferente, ela acaba encontrando neste ato uma forma de diversão que vai de encontro ao que temos hoje, jogos eletrônicos e redes sociais. Para um pai que tem um filho que gosta de lê, o orgulho sentimento nobre que fazemos questão de divulgar aos outros. Um país que tem leitores vorazes caminha na vanguarda da história, basta ver a França, a Alemanha, os EUA, países onde a média per capta de livros lidos por ano é superior a 4,7, média do Brasil.
“A leitura do mundo precede a leitura da palavra” disse certo mestre a quem devemos um grande legado na educação brasileira, contudo toda a sua vida foi dedicada a um projeto de alfabetização, inclusive de adultos. Prova inconteste de que não há que se negar que depois que temos acesso a esta outra leitura, a da palavra escrita, a própria leitura do mundo para nós se torna muito mais fácil, ela se potencializa.
Foi ao ler o menino do dedo verde, de Mauricio Druon, que a metáfora da esperança de que a leitura liberta tomou conta de mim. Desde então tenho presenteado os filhos e filhas de meus amigos com aquele livro. Por onde ando tenho perguntado as crianças como andam nas leituras, e tenho percebido que seus olhos brilham, e vejo que elas se sentem felizes ao saber que alguém além dos pais se preocupa com este aspecto. Tão simples tão óbvio. Uma criança que lê tem uma mente aberta. Escreve melhor, pensa melhor, oralmente se expressa melhor.
Estive lendo J. Flávio Vieira, sua obra Matosinho vai à guerra, e como suas palavras ganham força e graça e crítica sem que o leitor perca o prazer na leitura. Em suas palavras temos acesso ao universal pelo local, na narrativa do causo. Temáticas clássicas ganham indumentárias nossas, regionalistas, com o traço impar do humor cearense. Mas é preciso ler, e quando a gente tem esse contato, com tão gostosa obra, a gente se pergunta: quem mais terá lido? E sai a procura de pessoas para compartilhar a experiência e rirem juntos, mas quase ninguém leu. E resta-nos mostrar quão boa é a leitura do livro. É assim que funciona.
Você gosta de ler? Pergunto empolgado a meus alunos recém chegados do ensino fundamental II, e a resposta, a priori, é alentadora: gosto! O que tem lido, pergunto eu motivado ao mesmo tempo pela curiosidade e pela obrigação de professor de português. E a segunda resposta é decepcionante: as tarefas, mensagens no celular, essas coisas. Ali se inicia um processo de resgate. O aluno se encontra encarcerado, sequestrado pelo que acredita ser leitura, e a melhor maneira é ler em sala e mostrar-lhe a beleza que existe na leitura, seja de um cordel, seja de um conto, seja de poemas, ou ainda de crônicas. Ninguém gosta do que não conhece, então é importante que vistamos a melhor roupa na leitura para apresenta-la a quem de direito: a criança em casa, ao aluno na sala, aos amigos onde que estejam.
E a melhor roupa perpassa por Luciano Carneiro, Josenir Lacerda, Bastinha, Amazan, e tantos outros no cordel; a melhor roupa inclui Guimarães Rosa, Machado de Assis, Clarice Lispector, Lígia Fagundes Telles e tantos outros contistas; a melhor roupa inclui Patativa do Assaré, Manoel de Barros, Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecilia Meirelles, e tantos outros na poesia; vestir a melhor roupa enquadra os Rubens Alves e Braga, Luis Fernando Veríssimo na crônica e tantos outros culminam com a leitura de romances de Machado de Assis, José de Alencar, J, Lins do Rego, Raquel de Queirós etc, etc, etc.
Qualquer leitura é importante, especialmente em um mundo onde somos bombardeados diuturnamente por discursos opressores, fascistas, mas a leitura de literatura é libertadora, é ela que nos nutre com as substâncias necessárias para o combate diário e estressante desta vida moderna. E assim sendo é um direito de todos!
Por Francinaldo Dias. Professor, cronista, contador de “causos” e poeta
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri