Hoje eu queria ter as palavras certas para cada leitor. É que o tempo anda complicado e os bombardeios de notícias que nos atingem diariamente são aterrorizantes. Isso porque o que é noticiado e ganha repercussão à velocidade da luz em tempos de redes sociais raramente é bom. Sabemos que o contexto político e econômico não é alvissareiro, e isso afeta substancialmente todos os outros segmentos, e acaba por chegar às famílias, e aos indivíduos que a compõem.
Diante disso, eu queria poder dizer para a velha guarda que a juventude não está perdida, é que os tempos são outros, e a facilidade da vida, hoje, é apenas aparente. A polifonia de vozes no ouvido da juventude faz com ela se desnorteie, mas não significa que esteja perdida. Ainda há entre essa multidão de infantes, muitas almas que ainda valorizam seus avós e os escutam guardando seus conselhos e valores. E é a esses conselhos e valores que, em momentos extremos de suas existências, a juventude recorre, valores não envelhecem.
Queria dizer aos pais que sua missão há muito deixou de ser o simples prover do lar, até porque suas mulheres também há muito ganharam o mercado de trabalho. A paternidade agora ganhou status de coringa. Ser pai é ser amigo, parceiro, motorista, cozinheiro, conselheiro e credor, dentre outras funções a depender da circunstância de cada caso. Mas lembre-se, nenhum pai merece ou deve ser escravo do filho ou da filha. Há tempo para tudo, e o desafio é encontrar o exato momento em que cada coisa deve ser feita, para que não sejas o amigo conivente com o erro, o cúmplice ao invés do parceiro, o motorista que dá fuga no crime, o cozinheiro de quem sabe e pode cozinhar, o que estando precisando de conselho se cala ante a incompreensão do filho, ou o que pede emprestado para financiar as orgias do rebento. A paternidade exige sabedoria e bom senso, do contrário estará produzindo um monstro para a sociedade.
Eu queria dizer às mães que elas têm o direito de pensar em si mesmas. Não são escravas de seus esposos e filhos e filhas. A missão de uma mãe é por si só dádiva e sofrimento, desde a concepção, não há razão para que o sofrimento sobreponha à dádiva. Não sejam reféns de seus rebentos. Eduque-os na verdade para a liberdade e felicidade deles, mas entenda que essa liberdade não pode afetar a sua felicidade. Tenham coragem, diante da injustiça, e lembre-se que o silêncio só é sabedoria quando o barulho não for necessário. E a conversa franca é a melhor forma de superar as diferenças e resistências impostas pelas luta entre gerações, mas a mãe é a mãe, e isso é determinante.
Queria dizer aos filhos e filhas que seu pai e sua mãe são seus melhores amigos, mas é preciso que sejam francos para com eles, para que não haja mal entendidos no relacionamento. Que sendo filhos, chegará um momento em que eles deverão caminhar por conta própria e serão os donos de suas vidas. Não há porque criar área de atrito antes disso. Cada etapa da vida é muito importante para ser desperdiçada por conflitos desnecessários. O diálogo e a compreensão de cada lado é a solução para a paz na relação, e esse diálogo pode ser iniciado pelo filho ou filha.
Se eu pudesse eu diria a todas as pessoas que o segredo da felicidade é exigir muito de si e pouco dos outros, mas isso não significa que você deve sacrificar seus planos e sonhos pelo outro, cada um é responsável pelas suas conquistas, porque é preciso que estejamos bem para que aqueles que nos rodeiam fiquem bem. Diria que o segredo é a alteridade, colocar-se no lugar do outro vai nos levar à real noção do que determinadas atitudes causam em nossos pares. Diria que o perdão é muito importante, tão quanto perdoar, mas perdoar significa não mais tocar no assunto, que por sua vez representa confiar novamente. Contudo, há horas que devemos pedir perdão, mas libertar, para que não haja mais dor, porque certos relacionamentos são prisão.
Se eu pudesse eu diria aos pais divorciados que seus filhos continuam seus filhos e é necessário que suas responsabilidades quanto pais não sejam alteradas em essência, apenas reorganizadas. E aos filhos destes pais que seu pai e sua mãe continuam sendo seu pai e sua mãe, e o respeito lhes deve continuar. O que mudou foi entre o casal, e o amor que não há mais entre os pais pode se configurar em amizade, e esta vai lhe ser superior porque parte da mesma raiz de amor.
Diria individualmente a uma mãe separada que é covardia alienar um filho ou filha contra o pai, e ao pai que é covardia alienar um filho ou filha contra a mãe, e é inclusive prática similar a um crime, e poderá trazer danos irreparáveis à criança ou adolescente. Diria que mágoas da separação entre adultos poderão doer muito no início, mas nenhuma dor desta natureza dura para sempre, a vida segue, e certos elos nunca serão rompidos: estes elos são os filhos.
Se eu pudesse eu diria tudo isso. E talvez me digam: – com que autoridade lhes digo tais coisas como se fossem lições? E eu lhes responderei – Não sei! Algumas coisas a gente aprende vivendo. E eu sou apenas um aprendiz.
Por Francinaldo Dias. Professor, cronista, contador de “causos” e poeta
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri