O Ceará tem 380 casos confirmados de monkeypox, conhecida como varíola dos macacos, até esta quarta-feira (12) – pouco mais de 3 meses desde a primeira infecção no Estado. Mesmo com a chegada do primeiro lote de vacinas, não há previsão divulgada para distribuição de doses contra a doença no País.
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Os dados dos casos da doença no Ceará estão no portal IntegraSus, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), e foram atualizados na terça-feira (11).
Isso porque o primeiro lote com 9,8 mil doses, recebido no último dia 4, deve ser usado para um estudo sobre a efetividade do imunizante. Centros de pesquisa serão selecionados no País, porém não foi informado como isso deve acontecer.
A reportagem procurou o Ministério da Saúde em duas ocasiões com questionamentos sobre o recebimento de imunizantes e a distribuição para os estados, mas não obteve esse detalhamento. Até o fim do ano, o Ministério da Saúde diz receber 50 mil doses.
Sobre o assunto, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou, por meio de nota, que “aguarda comunicação do Ministério da Saúde (MS) em relação ao envio de vacinas contra a monkeypox”.
Em publicação, o Ministério da Saúde divulgou que o lote será para realização de estudo, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). A pesquisa será coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e apoiada pela OMS.
“É importante ressaltar que as vacinas são seguras e atualmente são utilizadas contra a varíola humana ou varíola comum. Por isso, o estudo pretende gerar evidências sobre efetividade, imunogenicidade e segurança da vacina contra a varíola dos macacos e, assim, orientar a decisão dos gestores.”
Ministério da Saúde
Nesse caso, a população geral e nem mesmo os profissionais da saúde devem receber o imunizante nesse primeiro momento. Apenas pessoas identificadas como expostas ao vírus, como contatos de casos confirmados, e pessoas em tratamento antirretroviral para HIV participam do estudo.
A escolha dos centros de pesquisa, conforme o Ministério da Saúde, considera as cidades com elevados números de casos confirmados da doença e a infraestrutura disponível para a condução do estudo.
E qual o impacto da demora para o acesso à vacina? “Se a gente já tivesse a vacina disponível, a chance de um contato evoluir para a doença diminuiria, mas por enquanto não temos essa opção de contenção do problema. Esse seria o melhor cenário”, resume o infectologista Robério Leite.
“A gente fica com essa pendência e, obviamente, a estratégia de contenção têm mais risco de falhas na ausência de vacinas.”
Robério Leite, infectologista
Isso porque a vacina pode ser aplicada de forma estratégica: quem tem contato com um caso de monkeypox, recebe o imunizante e diminui o risco de ter e transmitir a doença. Esse tipo de aplicação acontece para outras doenças, como exemplifica Robério, como sarampo e catapora.
Na ausência desse recurso, a identificação rápida dos casos e o isolamento dos pacientes devem ganhar maior importância. A vacinação para a população geral, no entanto, ainda não é recomendada.
“Como ainda não é uma doença que tenha uma repercussão muito grande na população, não há uma perspectiva de uma vacinação universal, como foi no tempo da varíola, porque o cenário é diferente”, explica Robério Leite.
Como a monkeypox atinge o CE
O Ceará permanece como o estado do Nordeste com o maior número de casos confirmados de monkeypox, com 380 casos. Na sequência, aparecem Pernambuco (164) e Bahia (116). O Ceará também aparece em 5º lugar no País.
Casos confirmados de monkeypox no Brasil
O último boletim do Ministério da Saúde, ainda sem a última atualização do Ceará, mostra os seguintes dados da doença:
• São Paulo: 3.847
• Rio de Janeiro: 1.137
• Minas Gerais: 527
• Goiás: 509
• Ceará: 377
A doença atinge, na maioria dos casos, pessoas entre 20 e 29 anos que somam 416 diagnósticos positivos. Nessa faixa etária, os homens (272) também são mais atingidos do que as mulheres (144).
Já são 148 crianças entre 0 e 9 anos com infecção por monkeypox nesse período. Os idosos, por outro lado, são menos afetados: 53 pessoas acima de 60 anos tiveram a doença.
Além dos casos confirmados, o Estado tem 200 pacientes que aguardam o resultado do exame para verificar se há infecção pela monkeypox. Fortaleza desponta como o local que concentra as confirmações da doença com 290 infecções.
Entre os sinais e sintomas mais comuns da doença na população cearense, as erupções cutâneas foram relatadas por 282 pacientes. Na sequência, aparecem febre (231) e lesão genital/perianal (176).
Como deve funcionar a pesquisa
Esse primeiro lote de vacinas contra a monkeypox deve ser usado em estudo para testar a efetividade da vacina Jynneos/MVA-BN®️ na população brasileira. São analisados dois fatores: se a vacina reduz a incidência da doença e a progressão à doença grave.
Os profissionais de saúde não estão incluídos como grupo prioritário para a aplicação da vacina. Conforme o Ministério da Saúde, os dados epidemiológicos no Brasil e no mundo não demonstram maior exposição desse grupo à doença.
Quem deve receber o imunizante
• Pessoas em pós-exposição, ou seja, que tiveram contato prolongado com caso confirmado de monkeypox
• Pessoas em pré-exposição, que fazem uso de profilaxia pré-exposição (PrEP) ou em tratamento com antirretroviral para HIV
• “Esses profissionais realizam coleta e atendimento aos pacientes com equipamento de proteção individual. Caso haja algum contato prolongado e sem proteção com algum paciente, esse profissional poderá ser recrutado”, informou o Ministério da Saúde.
Por Lucas Falconery
Fonte: Diário do Nordeste