Um homem conhecido como o “paciente de Genebra” apresentou remissão do HIV durante um ano e oito meses após receber um transplante de medula óssea. O caso pode ser o sexto episódio de cura efetiva contra o vírus, segundo anunciou nesta quinta-feira (20) o Instituto Pasteur de Paris, na França.
Até então, havia cinco casos de pessoas curadas do HIV em todo o mundo (em Berlim e Dusseldorf, na Alemanha; em Londres, na Inglaterra; em Nova York e Califórnia, nos Estados Unidos). Todos os episódios se deram após transplantes de medula óssea.
Além disso, todos os cinco pacientes receberam células com uma rara mutação genética, CCR5 delta 32, que impede o HIV de entrar nas células do sistema imune. Na população, as pessoas com essa mutação são naturalmente protegidas do vírus.
Porém, o que chama atenção dos cientistas é que o “paciente de Genebra” recebeu células-tronco desprovidas dessa mutação. Seu caso foi acompanhado por especialistas dos Hospitais Universitários de Genebra (HUG), em colaboração com o Instituto Pasteur, e será apresentado no dia 24 de julho, em Brisbane, na Austrália, na Conferência IAS 2023.
O transplante de medula
O homem vive com HIV desde o início da década de 1990 e sempre fez terapia antirretroviral. Em 2018, para tratar uma forma agressiva de leucemia, ele passou por quimioterapia e, depois, por um transplante de medula óssea para repor seu sangue e estoques de células imunológicas.
Desde o primeiro mês após o transplante, os testes mostraram que suas células sanguíneas eram inteiramente derivadas das células-tronco transplantadas. Outros testes não detectaram o HIV e o paciente finalmente parou de tomar o tratamento antirretroviral em novembro de 2021.
As análises realizadas desde então não detectaram partículas virais, nem reservatório viral ativável, ou aumento das respostas imunes contra o vírus. Isso não exclui que o HIV ainda persista no organismo, mas permite que a equipe científica considere o caso como uma remissão da infecção.
O homem também está com sua leucemia em remissão. “O que está acontecendo comigo é magnífico, mágico; estamos olhando para o futuro”, afirma o paciente, em comunicado.
Segundo explica Asier Sáez- Cirión, chefe dos Reservatórios Virais e Unidade de Controle Imunológico do Institut Pasteur, o protocolo ao qual o “paciente de Genebra” foi submetido não pode ser aplicado em larga escala devido à sua agressividade.
Contudo, “este novo caso traz elementos inesperados sobre os mecanismos de eliminação e controle dos reservatórios virais, que serão importantes para o desenvolvimento de tratamentos curativos para o HIV”, diz o especialista.
De acordo com os Hospitais Universitários de Genebra, essa descoberta diz respeito a apenas um paciente. Por isso, mais pesquisas serão necessárias para determinar se resultados semelhantes são observados em outras pessoas submetidas ao mesmo tratamento.
Além disso, ainda é considerado muito arriscado tratar pessoas com HIV que não precisam de transplante. O procedimento pode torná-los vulneráveis a outras infecções, e o corpo às vezes pode rejeitar a doação.
Mas as seis remissões documentadas podem servir de base para descobrir uma cura mais abrangente. “Com esta situação única, estamos explorando novos caminhos na esperança de que a remissão, ou mesmo a cura do HIV, não seja mais um evento excepcional”, afirma Alexandra Calmy, chefe da unidade de HIV/AIDS dos Hospitais Universitários de Genebra.
Fonte: Galileu