A agilidade para criar vacinas contra o coronavírus reacendeu a esperança entre cientistas e pesquisadores que buscam desenvolver imunizantes para outras doenças, principalmente quando falamos das vacinas de RNA mensageiro (mRNA) —da Pfizer e da Moderna, por exemplo.
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Diferentemente das vacinas produzidas com vírus inativado, essa tecnologia cria os imunizantes a partir da replicação de RNA por meio de engenharia genética, o que torna o processo mais barato e rápido. Antes mesmo da Covid, já existiam pesquisas de imunizantes de mRNA, sobretudo para doenças negligenciadas, como HIV, zika e malária.
No geral, essas e outras doenças finalmente têm recebido mais incentivos de indústrias farmacêuticas para produção de um imunizante —a maioria ainda em fase inicial. Abaixo, veja a lista das vacinas que estão com pesquisas em andamento ou em fase avançada de teste ou aprovação.
Câncer
O mRNA é visto, hoje, como uma das armas na busca pela cura de vários tipos de câncer, com uma abordagem individual para cada paciente.
Ainda em fase inicial, a BioNTech anunciou, em junho de 2021, que tratou o primeiro paciente com a BNT111, uma vacina contra o câncer de pele, nos estudos clínicos de fase 2.
O estudo, publicado na Nature, mostrou que 42 pacientes apresentaram boas respostas de anticorpos, além de uma ativação de células T (responsáveis pela imunidade adquirida, que é aquela que ocorre após exposição ao agente invasor) e das células específicas ao antígeno tumoral.
Essa vacina, inclusive, usa a mesma tecnologia de mRNA do imunizante contra o coronavírus da Pfizer-BioNTech. O objetivo de um imunizante contra o câncer feita de mRNA é ensinar o sistema imunológico a atacar as células que produzem uma proteína que ficam na superfície das células cancerosas.
No futuro, dependendo do tipo de câncer, pode ser possível criar vacinas preventivas para pessoas com o risco de desenvolver certos tipos da doença. No entanto, produzir uma vacina única para combater vários tipos de câncer pode ser difícil.
Malária
Uma vacina contra a malária foi aprovada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em outubro de 2021 —um grande marco no ano. Essa doença negligenciada, na qual laboratórios farmacêuticos prestam pouca atenção, mata mais de 400 mil pessoas por ano, sobretudo crianças africanas.
“É um momento histórico. A tão esperada vacina contra a malária para as crianças é um grande avanço para a ciência, a saúde infantil e o combate à malária”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em comunicado.
Os testes clínicos de fase 3 demonstraram que a vacina RTS,S, quando administrada em quatro doses, previne 4 em 10 casos de malária e 3 em 10 casos de uma variante que ameaça a vida.
Para implementar o imunizante em países mais pobres, a Gavi (Aliança Mundial para Vacinas e Imunização) aprovou um programa que facilita a introdução da vacina nessas regiões.
Desta forma, a aliança irá fornecer financiamento para a aquisição dos imunizantes, assistência técnica e outras atividades que permitirão aos países interessados solicitar apoio para a introdução da vacina.
Alzheimer
O ano de 2021 também foi marcante para os estudos relacionados ao tratamento do Alzheimer, doença neurodegenerativa e sem cura, que afeta a memória, o comportamento e outras funções mentais de forma progressiva.
Em outubro, uma vacina contra o Alzheimer começou a ser testada em humanos, segundo a biofarmacêutica sueca Alzinova AB, responsável pela tecnologia. No total, 26 pessoas com sintomas iniciais da doença participaram da pesquisa. Entre elas, uma parte recebeu quatro doses de vacina e a outra, placebo.
De acordo com especialistas, a ideia dessa vacina é tratar as pessoas que apresentam o depósito da proteína beta amiloide —uma das responsáveis por causar a demência— no cérebro em fase inicial, sem sintomas da doença.
Segundo a farmacêutica, a divulgação dos dados desta fase inicial de pesquisa sobre a vacina, denominada ALZ-101, está prevista para o segundo semestre de 2023.
HIV
Em agosto do ano passado, um ensaio clínico foi interrompido por causa de uma falha da vacina experimental na prevenção contra o HIV. O estudo estava sendo conduzido desde 2017, na África Subsaariana —um balde de água fria na comunidade científica.
Além do estudo Mosaico, patrocinado pela Janssen e realizado em mais sete países, incluindo o Brasil, há outras pesquisas em andamento. Uma delas utiliza a tecnologia de mRNA contra a Aids, que mostrou resultados promissores em animais.
A vacina foi considerada segura após ser administrada em macacos, com uma redução de 79% no risco de infecção devido à exposição ao vírus. Mas o imunizante requer melhorias antes de ser testado em humanos.
Cientistas desse instituto trabalharam em conjunto com pesquisadores da Moderna, empresa americana responsável por uma das vacinas mais utilizadas contra a Covid. O estudo foi publicado no dia 9 de dezembro de 2021 na revista Nature.
Tuberculose
Assim como a malária, a tuberculose é uma doença considerada negligenciada, ou seja, não causa tanto interesse da indústria farmacêutica por afetar principalmente países pobres.
No entanto, há uma vacina preventiva que tem apresentado resultados empolgantes, embora ainda em fase 2 de estudos.
O artigo publicado no The New England Journal Of Medicine, em dezembro de 2019, incluiu 3.575 pacientes, de 18 a 50 anos, com tuberculose latente, ou seja, com bactéria detectada “adormecida” e, portanto, sem sinais da doença —esse quadro é bem comum e estima-se que 1/4 da população viva desta forma.
No estudo, metade recebeu a vacina com duas doses e a outra parte, uma dose da vacina e outra de placebo. O resultado mostrou que, após três anos de acompanhamento, a vacina reduziu em 50% os riscos de desenvolvimento de tuberculose.
De acordo com a OMS, que considera essa vacina como a melhor candidata no momento, o resultado constitui um “importante avanço científico” em décadas de pesquisa para encontrar um imunizante contra tuberculose —além da vacina de BCG, que protege contra os casos mais graves da doença, sobretudo na infância.
Agora, a organização diz estar conversando com as partes interessadas e a comunidade sobre opções de desenvolvimento futuro.
Fonte: VivaBem/UOL