Há exatos 15 anos, era desativada a então Usina Manoel Costa Filho, hoje Usina Cariri I. A descontinuidade dos trabalhos, em 2004, viria a ser um forte baque para a economia da região, sobretudo para a cidade de Barbalha, onde o empreendimento fora instalado. Mas, para conseguir dimensionar o impacto com a paralisação da Usina, é necessário voltar no tempo.
Na década de 1970, quando foi instalada, a unidade que atuava na cultura da cana-de-açúcar gerou renda e prosperidade. No fim dos anos de 1980 e início de 1990, a usina já era responsável por quase quatro mil empregos diretos e indiretos. No auge da produção, comercializava cinco mil sacos de açúcar e tinha capacidade de produção de 40 mil litros de álcool por dia.
Da ascensão à queda
Nos anos 2000, a região experimentou o amargo gosto do declínio na produção da cana-de-açúcar. Com a escassez da principal matéria-prima responsável por ser a força-motriz da usina, veio a paralisação das atividades, em 2004.
Junto com o fechamento da indústria, houve também uma queda praticamente total do cultivo da cana na região do Cariri, com fechamento de quase todos os engenhos. A prosperidade deu espaço para a frustração e os tempos áureos cederam lugar para o desemprego.
Durante quase uma década, o local viveu no limbo, com o abandono e inutilização dos equipamentos. Em 2013, diante desta inércia, a Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará adquiriu a usina, por leilão, no valor de R$ 15,4 milhões. A aquisição representava, para a localidade, a esperança no ressurgimento da prosperidade.
“Todo mundo ficou animado. A gente esperava que íamos retomar a produção da cana, mas não vingou, foi mais uma frustração para todo mundo”, desabafou o pequeno produtor Mário Sérgio Façanha. Ele migrou de Pernambuco para a região do Cariri cearense em 1988.
Naquele ano, relembra Façanha, “o emprego aqui era farto. Eu conseguia sustentar com tranquilidade toda a minha família”, composta por seis membros. Hoje, dois de seus três filhos migraram para o Sul do País, onde trabalham no setor metalúrgico – e a mais velha, formada em Letras, leciona na cidade do Crato. O pai do produtor faleceu em 2003, “sem saber do fechamento da Usina” e, atualmente, Sérgio e a esposa vivem de uma pequena plantação de banana somado ao aposento de ambos. “Ninguém mais vive da cana. É inviável e também difícil de acreditar que em uma região tão farta tudo fosse acabar assim”, lamenta Sérgio Façanha.
Propostas
A agricultora Maria Lacerda foi outra que esboçou animação quando foi divulgada a notícia da compra da Usina. “Todo mundo se animou. Mas foram passando os anos e nada avançou, o prédio continua lá, parado, se acabando e sem gerar renda pra ninguém”, detalha Maria.
Logo após a aquisição, a Adece tentou negociar a usina para a iniciativa privada. A ideia era de que empresários assumissem a produção da cana-de-açúcar e, em contrapartida, o Estado teria participação nos lucros para compensar o montante milionário destinado à compra. “Vários investidores demonstraram interesse em adquirir a usina e cinco empresas chegaram próximas a concluir as negociações”, garantiu a Adece. Entretanto, mais de cinco anos se passaram e nenhuma empresa concretizou negócio.
A Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará garantiu, no entanto, que atualmente uma empresa está em negociação para assumir o local, mas não deu maiores detalhes “por questões de confidencialidade e também para não atrapalhar as negociações”. Ainda segundo a Agência, há um estudo de avaliação para identificar qual a melhor alternativa para possibilitar o funcionamento do empreendimento.
“A produção de batata-doce industrial tem demonstrado maior viabilidade para a região do Cariri em comparação com a cana-de-açúcar, tendo em vista a menor necessidade de mecanização e de água, além da maior possibilidade de geração de empregos”, detalhou a Adece sem estimar qual a previsão de reabertura da Usina Cariri I. Questionada sobre o valor atual de mercado do empreendimento e qual o custo da depreciação que os equipamentos tiveram diante da inatividade dos últimos anos, a Adece não se manifestou. Porém, há três anos, estimava-se que só na recuperação dos equipamentos seriam necessários investimentos superiores a R$ 35 milhões.
Mudança
Diante da indefinição frente à reativação da usina, a cultura na cidade foi substituída da cana para o plantio de banana. O cenário ao redor do local retrata bem o novo perfil. “Ironicamente, a usina de cana está rodeada por plantações de banana”, aponta o agrônomo Manoel Saraiva. A produção é vendida para várias partes do Nordeste, com quatro núcleos de distribuição: Teresina (PI), Fortaleza (CE), Salvador (BA) e São Luís (MA).
Por André Costa
Fonte: Diário do Nordeste