O roteiro turístico do Cariri é formado por riquezas históricas, cultura popular, religiosidade, belezas naturais, entre outros atrativos. Do outro lado da encantadora Chapada do Araripe está Exu, em Pernambuco, município que faz limite com o Crato, e onde há um repertório vasto de bens materiais e imateriais que tornam a ida à terra natal de Luiz Gonzaga quase que obrigatória para quem visita o Sul do Ceará. Em apenas uma hora de viagem, é possível conhecer a vida do ‘Rei do Baião’ e edificações valorosas para a memória do País. Porém, a falta de cuidado e o tempo ameaçam esses patrimônios.
O Parque Aza Branca – escrito com Z por erro do cartório. Gonzaga, supersticioso, não quis mudar – faz parte de um complexo de edificações que conta a história de um dos mais importantes artistas populares do Nordeste. Lá, está a fazenda que o ‘Velho Lua’ construiu às margens do Açude Itamaragi e que, hoje, abriga seu museu e, também, o mausoléu onde o ícone do forró está enterrado ao lado da esposa, Helena Cavalcante, do pai, Januário dos Santos, da mãe, Ana Batista de Jesus, e do irmão, o instrumentista Severino Januário. O espaço foi idealizado pelo filho de Luiz Gonzaga, Gonzaguinha.
Acervo
Com média de 25 mil visitantes por ano, o equipamento reúne objetos pessoais, certificados, títulos, medalhas, troféus e prêmios que Gonzaga recebeu ao longo da carreira. Além disso, possui algumas sanfonas que o acompanharam em momentos marcantes, como o que tocou na visita do Papa João Paulo II, a Fortaleza, em 1980, e o último instrumento que empunhou antes de morrer. Nesse complexo, está ainda uma pousada que Gonzagão ergueu para receber amigos e artistas, e a residência onde seu pai, Januário, morou.
Problemas
Contudo, desde dezembro do ano passado, o andar superior da casa do ‘Rei do Baião’ está interditado por questões de segurança. Há rachaduras no assoalho e nas paredes. O pavimento possui três cômodos, incluindo o quarto onde o músico dormia.
O prédio é administrado pela Organização Não Governamental Aza Branca, que mantém a estrutura com a venda de produtos como chapéus, camisas, entre outros, e o ingresso do museu, que custa R$ 4 (meia) e R$ 8 (inteira). Segundo o presidente da instituição, Júnior Parente, o complexo se mantém sem apoio do poder público desde 2014. O custo mensal é de R$ 15 mil. Outra fonte de renda são as festas realizadas no espaço, principalmente em 2 de agosto, data da morte de Gonzaga, e 13 de dezembro, dia do seu nascimento. Os artistas cantam de graça pela memória do Rei do Baião. “A gente consegue se autossustentar com a lojinha e o museu, mas recuperar uma coisa histórica não dá”, lamenta Parente.
Patrimônio
Tombado em 2009 pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), como “Ambientes de Origem e Memória de Luiz Gonzaga”, o Parque Aza Branca demanda aprovação do órgão estadual para qualquer tipo de intervenção.
Em nota, a Fundarpe enfatizou que a legislação estadual de tombamento prevê que tanto a posse quanto a manutenção permanecem sob a responsabilidade de quem possui a propriedade do imóvel. Por outro lado, ressaltou que o Governo de Pernambuco investe no Festival Viva Gonzagão, promovido pela Prefeitura de Exu. “Com o recurso, a Prefeitura fomenta o turismo local ofertando programação cultural gratuita em praça pública”, explicou.
Araripe
A 12 quilômetros do Parque Aza Branca, no distrito de Araripe, está a casa de taipa de Januário, onde Luiz Gonzaga morou antes de fugir, aos 17 anos, para Fortaleza para servir no Exército. Também tombada pela Fundarpe, a casa se mantém fechada, contrariando o objetivo pelo qual foi restaurada em 2011.
A casa é mantida pelos remanescentes da família Alencar, mas, segundo a própria comunidade, o poder público não valoriza, mesmo com o turismo aquecido, segundo a professora aposentada Amparo Alencar, que recebe os visitantes. “Semana passada, vieram pessoas de cinco estados e conversamos por duas horas. A gente faz o que pode. Tudo aqui é feito por nós”, garante.
Antes do centenário de Luiz Gonzaga, em 2012, a casa de Januário, segundo Amparo, “estava praticamente no chão”. A professora lembra que a Fundarpe enviou R$ 10 mil para restauração, mas o valor foi insuficiente. “Conseguimos com um amigo engenheiro fazer o projeto gratuito e ainda tiramos R$ 2 mil do bolso”, completa Amparo.
Em nota, a Fundarpe disse que a proposta era que o local fosse adaptado para visitação pública. O último relatório feito sobre o imóvel, em 21 de novembro do ano passado, constatou a casa fechada.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste