O fisioterapeuta Ilo Terceiro Alcantara, de 50 anos, ganhou uma nova chance de vida ao receber alta do Hospital Regional do Cariri (HRC), da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), após dois meses e nove dias de internação por causa da Covid-19. No dia 03 de maio, Alcantara, que até então não apresentava nenhuma comorbidade, deu entrada na unidade em estado grave e foi encaminhado diretamente para Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O paciente recebeu alta na segunda-feira, 12 de julho.
De acordo com exames de imagem, o fisioterapeuta teve 95% de comprometimento pulmonar. “A evolução da doença no Ilo foi muito rápida. Começou com uma dor nas costas. Uma semana depois, apresentou tosse e, no dia seguinte, já não conseguia respirar mais. Ao chegarmos no hospital, ele estava com uma saturação de 44% e, no momento da intubação, havia caído para 20%”, recorda a esposa Elizângela Santos, que conhece de perto o impacto da doença por trabalhar na UTI do HRC.
Técnica de Enfermagem, Elizângela conta que os dois foram infectados quase ao mesmo tempo. Primeiro foi ela que apresentou os sintomas. Quando estava em recuperação, Santos se deparou com o esposo, que até então só apresentava sintomas leves, em situação crítica. A doença progrediu de forma agressiva em Alcantara.
A médica Patrícia Mauriz relembra as inúmeras dificuldades enfrentadas por ele. “Além do comprometimento pulmonar de 95%, um quadro muito difícil, ao longo desses dois meses de UTI, Ilo teve acometimento renal, precisou de hemodiálise por um bom tempo, teve falência hematológica, começou a ter febre, anemia, muito edema, sem falar que teve choque circulatório. Ele chegou a ter um quadro de falência de múltiplos órgãos, no qual a mortalidade é altíssima. Foram muitos os obstáculos ao longo da jornada dele aqui dentro do hospital”.
Foram várias as tentativas da equipe de fazê-lo melhorar e inúmeras medicações até o momento em que o médico chamou a esposa para uma conversa. “O médico me explicou que iria tentar um último medicamento e, caso ele não reagisse, entraria em paliação, quando não há mais chance de recuperação”, rememora Elizângela, emocionada.
Medida paliativa foi cogitada
No dia que recebeu a notícia da possibilidade do marido entrar em paliação, a profissional de saúde conta que pediu para que Alcantara recebesse uma visita religiosa. Coincidência ou não, 24 horas após o momento, o paciente começou a reagir ao novo medicamento. A fé inabalável, mesmo em momento crítico, e o amor incodicional associado aos cuidados da equipe assistencial da unidade, segundo Alcantara, foram a fórmula para sua recuperação.
“Não sei o que seria de mim se não fosse pela dedicação dessa mulher. Ela sempre teve muita fé e, mesmo no momento mais crítico, não desistiu de mim, assim como a equipe. Sim, sou um milagre e com amor, fé e cuidado, tudo é possível”, diz.
O fisioterapeuta recebeu alta na noite de segunda-feira (12). Como ainda está traqueostomizado, ele segue sendo atendido pela equipe do HRC por meio do Programa de Atendimento Domiciliar (PAD).
“Guimarães Rosa já dizia: ‘Seja realista e acredite em milagres’. E a gente vê milagres aqui no nosso dia a dia. Pela ciência, o quadro de Ilo seria difícil de ser revertido, mas de pouquinho em pouquinho, nos deparamos com os milagres. A chance do Ilo era muito pequena, mas a vontade de Deus perpassa a ciência. Ilo teve uma nova chance e ele está aproveitando muito bem. Tenho certeza de que em casa ele já está brincando com a filha e esse amor vai ajudar ainda mais em sua recuperação. O amor e a fé, sim, são agentes transformadores”, indica Patrícia Mauriz.