Um estudo publicado na revista científica Royal Society Open Science, nessa quarta-feira (2), aponta que 88% dos macrofósseis do Cretáceo caririense, da Chapada do Araripe, no Ceará, descritos entre 1990 e 2021, estão em coleções estrangeiras. O dado é da pesquisa “Cavando mais fundo nas práticas paleontológicas coloniais no Brasil e México modernos”.
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O levantamento foi feito por 13 pesquisadores que apontaram que as práticas colonialistas aprofundam as desigualdades globais na pesquisa. Entre os autores do artigo, estão Juan Cisneros, paleontólogo na Universidade Federal do Piauí (UFPI), Emma M. Dunne, paleobiologista da Univerisdade Birmingham, no Reino Unido, e mais cinco paleontólogos do Brasil; três pesquisadores mexicanos e quatro paleontólogos da Alemanha e do Canadá.
A professora da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) e curadora do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, Flaviana Lima, uma das autoras do estudo, comentou sobre a pesquisa em entrevista a rádio CBN Cariri, nesta sexta-feira (4). Segundo Flaviana, a pesquisa buscou saber, principalmente, quantos fósseis da região do Cariri estavam fora do local de origem.
Ainda conforme a pesquisadora, após analisarem três décadas de publicações paleontológicas envolvendo macrofósseis do Cariri, eles identificaram que 59,15% delas foram lideradas por pesquisadores estrangeiros. E a maioria (57,14%) desses estudos gringos não tinham parceria com pesquisadores brasileiros. “O que nós descobrimos analisando todos esses trabalhos de 30 anos é que nós vimos que existem práticas colonialistas”, disse.
De todos os fósseis analisados nas pesquisas, 88% foram retirados do Brasil para compor acervos estrangeiros e nenhum deles foi devolvido. Flaviana ainda explica que o cenário fica pior pelo fato de todos esses materiais serem holótipos, ou seja, são fósseis utilizados para descrever novas espécies.
Apenas 5% dos fósseis estão no Cariri
Conforme Flaviana, 12% dos fósseis retornaram ao Brasil, mas apenas 5% estão no Cariri, no Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens da Universidade Regional do Cariri (URCA), em Santana do Cariri.
A pesquisadora ainda explica que o local tem capacidade para receber todos os fósseis que estão no exterior, ao contrário do que dizem pesquisadores estrangeiros que utilizam esse argumento para praticar colonialismo científico.
“Esses argumentos que são usados por pesquisadores estrangeiros são porque eles praticam esse colonialismo científico. Eles veem para nossa região, coletam os fósseis, levam os fósseis embora e levam junto com eles toda a possibilidade de uma educação, de uma formação científica, de um desenvolvimento de região que os fósseis trazem para essa região”, argumenta.
A professora da UFPE ainda reforça que os argumentos desses pesquisadores são inválidos quando eles apontam que “não há pesquisador qualificado para trabalhar com esse material; quando eles dizem que não têm equipamento suficiente para analisar esses fósseis”.
Desde 1942, os fósseis são considerados patrimônios da União e são protegidos por lei, sendo proibida a retirada e exportação desses materiais do País, sem a autorização da Agência Nacional de Mineração (ANM).
Além dessa lei, em 1990, o governo brasileiro publicou um decreto que regulamenta expedições científicas estrangeiras que coletam material biológico ou paleontológico no País, sendo autorizadas desde que haja coparticipação e corresponsabilidade de instituição brasileira reconhecida.
Por Miria Nobre
Fonte: O Povo