A chegada do período chuvoso no Ceará, além de trazer bonança ao homem do campo, reaviva alguns pontos que são icônicos no interior, como é o caso da Cachoeira de Missão Velha. No entanto, este importante cartão-postal do Município homônimo, que diante dos bons volumes pluviométricos deste início de ano logo receberá água, encontra-se em estado de abandono.
O lugar está tomado por lixo e dejetos. A reportagem do Sistema Verdes Mares flagrou uma grande quantidade de resíduos, tanto na parte superior da cachoeira, quanto no curso baixo do rio. Restos de comida, garrafas plásticas e de vidro, pratos, sacolas, embalagens de salgadinhos e até retalhos de tecidos invadem o espaço do geossítio e poluem o local circundado de belezas naturais exuberantes, que é responsável por atrair milhares de pessoas entre os meses de fevereiro a maio.
Sua manutenção deveria ser feita pela Prefeitura. Entretanto, de acordo com os moradores, essa fiscalização não é “realizada há anos”. A limpeza no local tem sido realizada pelos próprios nativos. “O pessoal de fora que frequenta fica naquela bebedeira e acaba deixando essa bagunça. Aqui e acolá, a gente se junta e faz uma limpeza”, conta o agricultor Francisco Teles, morador do Sítio Cachoeira.
Engajamento e entrave
Para enfrentar esse problema, o diretor executivo do Geopark Araripe, órgão cuja área abrange a Cachoeira, avalia ser preciso um trabalho com a própria comunidade do entorno. “Fizemos oficinas para as pessoas entenderem aquilo como deles, até pela geração de renda. A gente sempre busca trabalhar com as entidades”, explica, e acrescenta que essa intervenção do Geopark atua em parceria com a Universidade Regional do Cariri (Urca).
Nivaldo admite, no entanto, ser preciso ações mais fortes, que causem um impacto maior sobre os cuidados com o local. “A gente até fez mutirão de coleta ano passado”, exemplifica. Por outro lado, explica que há dificuldades que não estão sob a gestão do Geopark, como por exemplo, a Cachoeira não ser reconhecida como unidade de conservação. “Não são propriedades do Estado, são do município ou particulares. Até para fazer um investimento em infraestrutura é mais complexo. O ideal era que o município se tornasse uma unidade, que teria plano de manejo, conselho gestor. A gente até conseguiu melhorar o acesso, agora tem que melhorar a questão do espaço”, completa.
O secretário de Meio Ambiente de Missão Velha, Marley Macêdo, explica que enfrenta dificuldades para fazer a gestão compartilhada de defesa e proteção da Cachoeira. Ele reconhece que não existe nenhum profissional responsável pela fiscalização. “Não tem como a gente saber quem jogou ou quando estão por lá. Cerca de 80% dos frequentadores são visitantes”, justifica. Por ser recém-criada, a Pasta não tem recursos para realizar ações de coleta. Marley ressalta, também, que algumas ações, como mutirões de limpeza e trabalhos de conscientização estão sendo realizados, embora a periodicidade ainda esteja aquém do aceitável: a cada três meses.
Danos
O engenheiro ambiental Marcos Vinicius Gomes avalia que tamanha poluição pode comprometer o recurso hídrico que corta o geossítio. “O acúmulo de resíduos sólidos na Cachoeira de Missão velha é um prejuízo socioambiental enorme, uma vez que afeta tanto as questões ambientais, com a decomposição desses resíduos e consequente contaminação da água, quanto às questões econômicas e sociais”, detalha.
Agravante
O engenheiro externa a necessidade urgente de uma limpeza no local em detrimento da chegada do período chuvoso, que, segundo ele, vai dificultar ainda mais a coleta destes resíduos. “Todo esse material será carregado para outras partes do rio. Esses derivados de resíduos orgânicos degradam mais rapidamente, porém consomem o oxigênio do corpo hídrico, causando a mortalidade dos peixes, por exemplo”, complementa Marcos Vinicius. Já os inorgânicos, explica o engenheiro, demoram mais tempo a desaparecerem da natureza causando ambientais danos ainda maiores.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste