A Polícia Federal (PF) investiga dois deputados do Partido Liberal (PL) — Carlos Jordy, do Rio de Janeiro, e Sóstenes Cavalcante, líder da legenda na Câmara dos Deputados — por suspeita de desvio de verba pública. Nesta sexta-feira (19), agentes federais cumpriram mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos parlamentares e a assessores.
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Em um apartamento utilizado por Sóstenes Cavalcante, em Brasília, a PF apreendeu cerca de R$ 470 mil em espécie, guardados dentro de um armário. Também houve buscas em imóveis relacionados ao deputado Carlos Jordy e a assessores dos dois parlamentares.
⚖️ Autorização judicial e medidas cautelares
A operação foi autorizada pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), após parecer favorável da Procuradoria-Geral da República (PGR). Além das buscas, o magistrado determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos dois deputados.
Segundo as investigações, Carlos Jordy e Sóstenes Cavalcante são suspeitos de desviar recursos da cota parlamentar, verba pública destinada a cobrir despesas do mandato, como passagens aéreas e aluguel de escritórios. Parte desses valores, de acordo com a PF, teria sido usada para cobrir despesas inexistentes, por meio de empresas de fachada, entre elas uma locadora de veículos, com apoio de funcionários para simular contratos.
🔍 Origem das investigações
A PF chegou aos parlamentares após analisar material apreendido em outra operação realizada no fim de 2024. Entre os elementos reunidos estão trocas de mensagens, depoimentos e um relatório de inteligência financeira que apontou movimentações atípicas de recursos envolvendo assessores dos deputados e do próprio PL, somando cerca de R$ 27 milhões.
De acordo com os investigadores, os valores oriundos da cota parlamentar eram sacados e depositados de forma fracionada, em quantias de até R$ 9.999 — prática conhecida como “smurfing”, técnica associada à lavagem de dinheiro para dificultar a fiscalização por órgãos financeiros.
📊 Movimentações financeiras de assessores
O relatório da PF aponta que o assessor do PL Adailton Oliveira Santos recebeu e repassou mais de R$ 11 milhões sem identificação clara de origem ou destino. Segundo o documento, o volume e a dinâmica das transações são incompatíveis com sua renda, que era de R$ 14 mil mensais em novembro.
Já o assessor de Carlos Jordy, Itamar de Souza Santana, teria movimentado quase R$ 6 milhões, grande parte também sem origem ou destino identificados. O salário dele é de R$ 16 mil.
Para a Polícia Federal, os deputados e assessores teriam integrado uma organização com divisão clara de tarefas e “objetivo claro e certo de ocultar/dissimular valores oriundos de infração penal”.
🗣️ Defesa dos investigados
Em uma rede social, o deputado Carlos Jordy afirmou ser alvo de perseguição e negou irregularidades no contrato de aluguel de veículos:
“É a mesma empresa que eu alugo carros desde o meu primeiro mandato. Eles dizem que chama a atenção o número de veículos dessa empresa, que aluga para vários outros deputados, inclusive. Dizendo que as outras empresas têm mais de 20 veículos na sua frota. E a Haruê Locação de Veículos tem apenas cinco veículos. Por isso seria uma empresa de fachada. Eu sei o que eles estão fazendo. Isso aqui é mais do que querer nos intimidar”.
O deputado Sóstenes Cavalcante também negou irregularidades. Segundo ele, os R$ 470 mil apreendidos seriam provenientes da venda de um imóvel em Minas Gerais, declarada no Imposto de Renda. Ele afirmou não se recordar da data exata da negociação e disse que ainda não havia feito o depósito bancário:
“O imóvel me foi pago com dinheiro lícito, está lacrado, tem origem. Eu recebi recentemente dinheiro e, com essa correria de trabalho, acabei não fazendo o depósito. Mas eu faria. Inclusive, parte dele penso em fazer outros negócios, acabei não fazendo o depósito. Foi simplesmente um lapso. Ninguém pega dinheiro ilícito e bota em casa. Eu guardei dentro do guarda-roupa. Eu peguei o dinheiro, recebi e coloquei ali, simples isso”.
🏛️ Reação da Câmara dos Deputados
Questionado sobre a operação, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), afirmou que o Supremo cumpre seu papel e que o Legislativo não atuará para proteger irregularidades. A entrevista foi concedida apenas em áudio ao Jornal Nacional, da TV Globo:
“A Câmara não tem compromisso em estar protegendo aquilo que não é correto. A Câmara dos Deputados não tem essa função, muito menos o presidente. Quando a gente tem um colega que é alvo de qualquer ação do Judiciário, seja ela qual for, nós não ficamos felizes com isso. Nós respeitamos o trabalho do Supremo, não temos compromisso com quem não trabalha correto e vamos sempre acompanhar aqui na presidência da Câmara para que exageros não sejam cometidos”.
Por Heloísa Mendelshon










