O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu sua primeira entrevista a um veículo estrangeiro desde sua saída da prisão. Ao jornal britânico “The Guardian”, Lula falou sobre o governo Bolsonaro, as eleições de 2022, a renúncia de Evo Morales na Bolívia e seu período na prisão.
Lula disse ao jornal que sua missão após sair da prisão é “lutar pela democracia”, pois, segundo ele, Jair Bolsonaro representa uma ameaça a ela. “Bolsonaro já deixou claro o que ele quer para o Brasil: ele quer destruir todas as conquistas democráticas e sociais das últimas décadas”, disse.
Ele criticou a política externa do governo Bolsonaro e o fato de o presidente já ter dito que admira o ditador chileno Augusto Pinochet e o líder da Hungria, Viktor Orbán.
“Vamos torcer para que Bolsonaro não destrua o Brasil. Vamos torcer para que ele faça algo de bom pelo país … mas duvido disso “.
“Sua submissão a Trump e aos EUA … é realmente embaraçosa”, acrescentou. A imagem do Brasil é negativa agora. Temos um presidente que não governa, que está discutindo notícias falsas vinte e quatro horas por dia. O Brasil precisa ter um papel no cenário internacional”.
Eleições
Lula comentou que “o PT está se preparando para retornar e governar” o país, mas não citou se será o candidato pelo partido. “Em 2022, terei 77 anos. A igreja católica – com 2.000 anos de experiência – aposenta seus bispos aos 75 anos”, disse ele.
Segundo ele, “ninguém previu a eleição de Bolsonaro [em 2018] – nem mesmo ele” e creditou essa vitória à sua ausência no pleito. “As pessoas votaram em Bolsonaro, principalmente, porque Lula não era candidato”, disse ele. “A melhor maneira de recuperar o voto dessas pessoas é conversar bastante com elas”.
Quando questionado sobre a grande rejeição que o PT enfrenta entre os eleitores, ele respondeu: “É claro. As pessoas falam mais sobre Pelé do que os outros jogadores”.
América Latina
Ele disse estar animado com a volta de líderes da esquerda em países como México e Argentina, no entanto, demonstrou tristeza com os acontecimentos recentes na Bolívia.
“Meu amigo Evo [Morales] cometeu um erro ao tentar um quarto mandato como presidente”, disse. “Mas o que eles fizeram com ele foi um crime. Foi um golpe – isso é terrível para a América Latina”.
O ex-presidente boliviano Evo Morales, que renunciou há 11 dias em função dos protestos contra sua controvertida reeleição. Ele estava há quase 14 anos no poder quando tentou garantir um quarto mandato na polêmica eleição de 20 de outubro.
Tempo na prisão
Ele comentou sobre os 580 dias que passou preso no prédio da Polícia Federal em Curitiba e disse que só conseguiu sobreviver graças ao acampamento que seus apoiadores montaram do lado de fora da sede da PF.
“Saí da prisão com um coração maior. Por causa dos ativistas, não fiquei amargo por dentro”, disse.
Ele voltou a criticar Sergio Moro por sua condenação. “Espero que um dia o Moro seja julgado pelas mentiras que ele contou”.
Fonte: UOL (Com AFP)