É necessário conhecermos a história. Zé Lourenço é um dos personagens mais marcantes do Ceará. Em pouco espaço de tempo, conquistou pessoas e a confiança do Padre Cícero. Também atraiu inveja de muitos latifundiários e alguns representantes da igreja católica, por exercer com sabedoria, sua liderança e trabalho. Sua inabalável fé o fazia ter coragem.
Conspiraram sem o conhecimento do Padre Cícero, porém, com forte anuência de Floro Bartolomeu, perto do final de 1926 de maneira abrupta, o mandaram desocupar as terras. Sem o menor reconhecimento do trabalho produtivo alí desenvolvido.
Padre Cicero o mandou pra suas terras, uma propriedade também localizada no Crato, denominada “Caldeirão dos Jesuítas “.
Lá foram enterrados dois padres jesuítas que vieram em missão de catequese. Os mesmos morreram de fome e sede.
Em seguida passou a ser chamado “Caldeirão da Santa Cruz do Deserto”, justamente pelos penitentes conduzirem a cruz em suas caminhadas.
“Caldeirão, um sonho que passou”
Final do ano de 1926, chegam ao Caldeirão, Zé Lourenço e importante número de pessoas, inclusive Severino Tavares, pai de Eleutério Tavares e família.
Caldeirão, primeira Comunidade Agrícola, considerada organizada pelos proprios perseguidores do Brasil.
Sofreu ataques do Exército, coadjuvado por representates da Igreja com total apoio da Diocese do Crato e de ricos fazendeiros.
A história da Comunidade do Caldeirão ocupou espaço na imprensa nacional por vários motivos. Em destaque, a insatisfação dos latifundiários por perderem mão de obra, que eles exploravam e a igreja por perder adeptos.
O líder Zé Lourenço em terras do Caldeirão, oferecia abrigo, alimento, roupa, calçado, pregando sob a luz da fé, a união e o respeito.
Dia 11 de maio de 1937, o Exército, por determinação do governo Vargas bombardeia a comunidade através do Ministério da Guerra.
A história da chacina do Caldeirão, foi abafada, pois havia sido um ato alimentado por autoritarismo e tirania dos governantes.
Muitas vidas ceifadas de ambos os lados, porém não conseguiram tirar a vida do beato, conseguiram tirar a vida de Severino Tavares, braço forte da Comunidade.
Tudo se repetia com mais crueldade. A comunidade destruída e os que escaparam se espalharam com medo, pois a infame perseguição continuou por muitos anos.
Fazenda União
O beato conseguiu comprar uma propriedade no município de Exu, Pernambuco, onde foi humanamente recebido pelas autoridades religiosas, políticas, instituições militares e pela Justiça.
A terra floreceu sua habilidade e capacidade em cuidar da terra, tornando-a fértil. Na União, o beato e seus seguidores tiveram o apoio que parte do povo do Ceará não deu.
Sem perseguição, viveu seus anos precedentes à sua passagem. Acometido pela peste bubônica, o beato faleceu em seu leito no dia doze de fevereiro de 1946, deixando grande legado em convivência comunitária, valorização à terra, trabalho incansável e fé inabalável.
Velado na residência de Eleutério Tavares, pelo Monsenhor Juviniano Barreto, pároco da igreja São Miguel, ordenou que fechasse a igreja, para não receber o corpo do beato. Está sepultado no Cemitério de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Juazeiro do Norte.
Por Maria Loureto de Lima. Professora e historiadora. Ex-secretária de educação de Juazeiro do Norte
*Este texto é de inteira responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri