Há exatos 50 anos, o dia raiou na cidade de Cabo Canaveral para um dia que seria diferente de todos os outros. Cerca de 1 milhão de pessoas se reuniram na costa da Flórida para testemunhar o início da primeira viagem humana à superfície da Lua.
Hoje, a missão Apollo 11 é relembrada como um marco histórico na corrida espacial, a versão pacífica da disputa armamentista e tecnológica conduzida pelos Estados Unidos e pela União Soviética durante boa parte da segunda metade do século 20.
Naquele 16 de julho, o foco era cumprir o desafio lançado em 1961 pelo presidente John F. Kennedy: enviar um homem à Lua e trazê-lo de volta à Terra antes do fim da década.
Um caminho longo e sinuoso desembocou naquele momento. Os primeiros embaraços na corrida espacial, propiciados pela largada furiosa dos soviéticos com o Sputnik, em 1957, as primeiras missões robóticas lunares, em 1959, e o lançamento de Yuri Gagarin ao espaço, em 1961, deram lugar a uma sequência tão complexa quanto ambiciosa de missões, que envolviam desenvolver habilidades de encontro e acoplagem em órbita, caminhadas espaciais, manobras em espaço profundo e perigosos pouso e decolagem da superfície de um mundo inteiramente desconhecido.
Na Apollo 8, em dezembro de 1968, pela primeira vez astronautas orbitaram a Lua, vendo de lá o poético e icônico nascer da Terra. Na Apollo 10, em maio de 1969, todos os sistemas foram testados para uma tentativa de pouso —exceto a aproximação final e a alunissagem. Caberia à missão seguinte tentar deixar as primeiras pegadas humanas no solo lunar.
Uma tripulação extremamente experiente havia sido escalada para a tentativa. Em todo o projeto Apollo, apenas as missões 10 e 11 seriam inteiramente compostas por veteranos de outros voos.
O comandante, Neil Armstrong (1930-2012), era talvez o mais frio e metódico de todos os astronautas a serviço da Nasa. Ficou famosa a história em que ele pilotava um veículo que simulava em terra o desempenho do módulo lunar, o LLRV, e teve de ejetar dele a 30 metros do chão, conforme o controle da máquina se degradava. Violentamente atirado para longe, pousou em segurança com seu paraquedas enquanto o LLRV ardia em chamas. Calcula-se que, se ele tivesse demorado mais meio segundo para ejetar, teria sido tarde demais. Armstrong saiu dali e foi direto para seu escritório escrever o relatório da perda do veículo.
Ele também tinha outra peculiaridade: em meio a tantos militares, era um dos únicos astronautas da Nasa que era civil. Armstrong chegou a servir à Marinha entre 1949 e 1952, como parte de um programa de bolsa que o levou à Universidade Purdue, onde cursou engenharia aeronáutica, onde se formou em 1955.
De lá, tornou-se piloto de prova de veículos experimentais do Naca (Comitê Nacional Consultivo de Aeronáutica, precursor da Nasa). Chegou a pilotar o avião-foguete X-15, o primeiro veículo suborbital americano. Em abril de 1962, atingiu a altitude de 63 km.
Foi incorporado aos astronautas da Nasa naquele ano, como parte da segunda turma, e realizou uma missão antes da Apollo 11: a Gemini 8, em 1966, responsável pela primeira —e arriscadíssima— acoplagem da história da exploração espacial. Mais uma vez, sua frieza o salvou quando um propulsor travou ligado, dando rotação cada vez maior à cápsula. Armstrong teve de abortar a missão antes que as revoluções fizessem com que ele e seu colega David Scott desmaiassem.
Como piloto do módulo de comando da Apollo 11, a Nasa escolheu Michael Collins (1930- ). Nascido em Roma, ele era filho de um oficial do Exército americano estacionado da Itália. Interessado pela carreira militar, ele preferiu a Força Aérea para evitar acusações de nepotismo.
Collins entrou para o grupo de astronautas da Nasa com a terceira turma, de 1963, e foi escalado para a missão Gemini 10, em 1966, até então o maior recorde de altitude num voo espacial. Em seguida, foi escalado para a tripulação daquela que seria a Apollo 8, mas um problema cervical o obrigou a passar por uma cirurgia e com isso ele foi substituído, o que acabou colocando-o no voo espacial mais famoso da história —mas para observar apenas à distância, solitário, orbitando a Lua no módulo de comando.
Para descer com Armstrong à superfície da Lua, a Nasa escalaria, como piloto do módulo lunar, Edwin “Buzz” Aldrin (1930-). Buzz, como sua irmã mais nova o chamava, era seu apelido favorito. Virou seu nome oficial e também de personagem de “Toy Story”.
Formado pela Academia Militar de West Point em 1951, como engenheiro mecânico, Aldrin conduziu 66 missões de combate na Guerra da Coreia (1950-1953) pela Força Aérea americana. Entre 1959 e 1963, fez doutorado em astronáutica pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, na esperança de se tornar astronauta.
Foi escolhido pela Nasa para a terceira turma de astronautas e participou da missão Gemini 12, em 1966. Seu desempenho excepcional em caminhadas espaciais o colocou na tripulação da Apollo 11.
Após um desjejum com café, suco de laranja, ovos mexidos e torradas, os astronautas embarcaram na espaçonave, a 110 metros de altura, no topo do foguete gigante Saturn V, às 6h45 (hora local da Flórida) do dia 16 de julho de 1969.
A contagem regressiva transcorreu sem grandes problemas —pequenas falhas como o vazamento em uma válvula e uma luz indicativa de falha foram resolvidas por equipes na plataforma 39A do Centro Espacial Kennedy na preparação final. O lançamento aconteceu às 9h32 (na Flórida; 10h32, em Brasília).
Pouco menos de 3.000 toneladas de combustível e oxidante seriam consumidos de forma controlada —o equivalente energético de uma bomba nuclear de 5 quilotons, um terço da potência do artefato lançado sobre Hiroshima em 1945—, a fim de colocar a Apollo 11 a caminho da Lua.
Após uma checagem dos sistemas em órbita terrestre baixa, o terceiro estágio do Saturn V foi acionado para a injeção translunar, realizada às 12h22 (da Flórida).
Armstrong, Collins e Aldrin foram dormir leves como plumas, mas com o peso do mundo nos ombros, às 20h52, enquanto sua nave vagava inerte pelo espaço interplanetário no início da jornada épica à superfície da Lua.
Fonte: Folha.com