O número de focos de queimadas no Ceará, registrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), neste mês de outubro, é menor do que o observado em igual período de 2019. Até agora foram 895 e no ano passado, 1.373, uma redução de 35%. Mesmo assim, houve um crescimento em relação aos anos de 2018 (591) e 2017 (793) e os números continuam elevados e são considerados preocupantes.
Na série estatística de 23 anos do Inpe, a partir de 1998, outubro, que terminou ontem, é o 10º mês com maior índice de incêndios em vegetação. Há uma perspectiva dos especialistas de crescimento nos focos de queimadas em novembro, período em que o tempo fica mais quente, a vegetação seca e a insistência de alguns agricultores e criadores de usarem a técnica proibida de fazer broca (cortes) e as coivaras (galhos juntos) em seguida a fogueira.
Entre 2001 e 2019, em apenas quatro anos, o número de queimadas ficou abaixo de mil, nos meses de novembro, segundo o Inpe. O recorde da série para o período é de 2003, quando foram registrados 4.760. “É uma realidade assustadora”, observou o professor de Geografia do Instituto Federal de Educação, campus de Iguatu, Carlos Lima da Silva. “Uma antiga cultura e práticas criminosas resultam nesses índices alarmantes, nessa época do ano”, afirmou o professor.
O meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Flaviano Fernandes, avalia que as precipitações ocorridas na segunda quinzena de outubro último pouco influenciaram na redução dos focos de queimadas neste ano em comparação com o ano passado. “Foram chuvas localizadas e já para o fim do mês”, pontuou. “É claro que onde choveu o mato e a terra ficam úmidos e dificultam a expansão do fogo”.
Para Flaviano Fernandes, a ocorrência de queimadas “varia de ano para ano” e o fenômeno precisa ser melhor analisado porque “há muitos incêndios criminosos e ainda aqueles em que o fogo se alastra, perde o controle, quando feito para limpeza da roça”.
O meteorologista do Inpe pontuou que quando a quadra chuvosa é favorável “o capim nativo e os arbustos da caatinga crescem e perduram por mais tempo e quando chega o período seco e quente (agosto a dezembro) tornam-se um bom combustível, uma biomassa, para propagação do fogo”.
Chuvas
Já para o professor de meteorologia do Instituto Federal de Educação (IFCE), campus de Crato, Danúsio Souza, a redução do número de queimadas decorre “das boas chuvas que tivemos no primeiro semestre deste ano e que deixou reservatórios mais cheios e mais umidade no solo”.
Souza também lamentou a permanência da prática por parte dos agricultores em “fazer queimadas localizadas para limpar a área para plantio futuro e formação de pastagem com a volta das chuvas”, mas que o fogo se alastra, “perde-se o controle muitas vezes”, salienta.
O comandante do 4º Batalhão de Bombeiros, tenente-coronel, Nijair Araújo, observa que, nos meses de agosto, setembro e parte de outubro as queimadas são mais localizadas nas margens de rodovias, “por serem áreas de mais fácil acesso” e que “o fogo se espalha para o interior das roças”. Já para o período de novembro a dezembro verifica-se “queimadas mais para o interior”.
Na avaliação do oficial do Corpo de Bombeiros do Ceará, a ampla maioria dos focos de incêndios em vegetação decorre da ação proposital do homem. “A gente pode afirmar sem medo de errar que mais de 90% dos casos são pessoas que colocam fogo só para queimar, ver o incêndio”, frisou o subcomandante do quartel de Sobral, major BM Mardens Vasconcelos.
Por Honório Barbosa
Fonte: Diário do Nordeste