O preço do café deve continuar em alta nas próximas semanas e só deve se estabilizar com o início da colheita da nova safra, prevista para abril ou maio deste ano. A estimativa é da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), que atribui o aumento a fatores climáticos adversos, crescimento da demanda mundial e alta nos custos de produção.
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Por que o café está mais caro?
Segundo a Abic, a escalada no preço do café começou em novembro do ano passado e deve permanecer por pelo menos mais dois ou três meses. O Brasil, principal produtor e exportador mundial, enfrenta dificuldades na lavoura devido a problemas climáticos sucessivos nos últimos anos.
“O acúmulo de quatro anos de problemas climáticos e o crescimento da demanda global explicam essa alta nos preços”, afirmou o presidente da Abic, Pavel Cardoso.
Além disso, a China tem se consolidado como um novo grande mercado consumidor, pressionando ainda mais a oferta global. A elevação dos custos de produção também influenciou o preço final, com a indústria registrando aumentos de mais de 200%, dos quais 38% foram repassados ao consumidor.
Impacto do clima na safra
Os últimos anos foram marcados por dificuldades para os cafeicultores. Em 2021, uma geada atingiu a lavoura e dizimou cerca de 20% da produção de café arábica. Em 2022, a recuperação não foi suficiente, já que a planta leva, em média, dois anos para se recompor.
No ano passado, a produção sofreu os impactos do El Niño, com longos períodos de estiagem e altas temperaturas. Já em 2024, o fenômeno La Niña trouxe chuvas excessivas, afetando a colheita.
“Essas condições são muito ruins para a lavoura, e a safra deste ano será ligeiramente menor que a do ano passado”, explicou Cardoso.
O preço do café vai cair?
A expectativa da Abic é que os preços só comecem a recuar a partir da safra de 2025, que pode bater o recorde de 2020. Para este ano, espera-se que a colheita ajude a estabilizar os valores, mas sem grandes quedas.
“Devemos ter alguma volatilidade adicional até a chegada da safra devido à oferta reduzida. Com a colheita, esperamos uma estabilização. Já para 2026, acreditamos que a produção será robusta, possivelmente maior que a de 2020”, projetou Cardoso.
Enquanto isso, o consumidor deve continuar sentindo os impactos da alta nos preços, já que a indústria ainda tem custos elevados a repassar ao mercado.
Crescimento do consumo e impacto no mercado
O consumo de café no Brasil cresceu 1,11% entre novembro de 2023 e outubro de 2024, de acordo com a Abic. O país continua sendo o segundo maior consumidor mundial, atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2024, foram consumidas 21,9 milhões de sacas, 4,1 milhões a menos que os norte-americanos.
O brasileiro consome, em média, 1.430 xícaras de café por ano. Esse aumento no consumo, somado à alta dos preços, fez o faturamento da indústria no mercado interno atingir R$ 36,82 bilhões, um aumento de 60,85% em relação a 2023.
Os cafés especiais tiveram reajustes significativos, com aumentos de até 39,36% nos produtos tradicionais e extrafortes. Os cafés em cápsula também ficaram 2,07% mais caros.
Mercado internacional e recordes na Bolsa
A alta no preço do café também se reflete nas bolsas internacionais. Na Bolsa de Nova York, os contratos futuros do café arábica atingiram os valores mais altos da história, chegando a US$ 3,97 por libra-peso.
“Esse recorde, próximo de US$ 4 por libra-peso, se deve a uma oferta curta e à entrada de grandes fundos de investimento no setor”, explicou Cardoso. “Essa escalada vai parar em algum momento, mas ninguém sabe quando. Essa é a grande questão do momento.”
Por Heloísa Mendelshon