O escritor Olavo de Carvalho foi sepultado na quarta-feira (26), nos Estados Unidos. Considerado guru do bolsonarismo — ele chegou a indicar nomes para pastas do atual governo —, o autointitulado filósofo morreu na segunda-feira (24), aos 74 anos, nos Estados Unidos. A família emitiu a nota oficial sobre seu falecimento, mas, até agora, mantém a causa em sigilo.
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Para uma de suas filhas, Heloísa de Carvalho, 52, o motivo é Covid-19. Como a informação descredibilizaria todo o discurso de negação à pandemia que o pai vinha tendo, preferem esconder. “Mas eu já pedi a certidão de óbito para saber a causa da morte. Tenho direito à verdade”, diz. Segundo Heloísa, essa certidão deve demorar 60 dias para chegar em suas mãos, mas acredita que vai sanar a dúvida antes do previsto. “Ele tem vários processos, pedidos de indenizações. O advogado vai precisar incluir o atestado de óbito.”
“Não fiquei imune à notícia, é meu pai. Mas tive sensação de leveza”
Heloísa conta que viu a notícia da morte no Twitter na madrugada da segunda, depois de acordar de madrugada e não conseguir mais dormir. “Na hora, deu uma sensação de leveza, começou um monte de mensagem, pessoal escrevendo no meu Twitter. Eu chorei, mas foi pelas mensagens que recebi, de gente dizendo que sabe o que eu passei e acredita no que conto.”
Ela e o pai romperam em 2017, quando Heloísa tentou interceder por um integrante da equipe de um documentário sobre Olavo que dizia ter sido deixado de lado após a estreia do filme. Depois disso, ela passou a combater o “olavismo” em suas redes e a falar sobre a infância que teve com Olavo. Segundo ela, ele já chegou a ter três mulheres ao mesmo tempo e negou à filha o direito de ser alfabetizada quando criança.
Mas essas são memórias que ela já não retoma mais. A lembrança que fica do pai, infelizmente, é a postura de Olavo em relação à pandemia. “No dia que ele postou que não tinha havido nenhuma morte por Covid, que era mentira, eu recebi a notícia do falecimento de uma amiga querida que deixou três filhos. Nesse dia, se eu estivesse perto do Olavo, voaria no pescoço dele. Senti muita raiva. Isso eu não consigo esquecer.”
“Pensei em não me pronunciar e respeitar luto. Mas ‘olavetes’ me massacrariam”
Em um primeiro momento, Heloísa conta que tinha decidido não se pronunciar a morte do pai. Mesmo com os ataques que recebia nas redes. “Começaram a dizer que ‘agora a vigarista vai ter herança’, um até me culpou dizendo que Olavo morreu de tristeza. Mas não fui eu que passei o vírus para ele”, diz.
“Queria ficar em silêncio e respeitar o luto, mas percebi, conversando com uma amiga, que seria massacrada. Para não deixar nenhuma fake news crescer, comecei a dar entrevistas. Os ‘olavetes’ já falavam, antes, que eu sentiria remorso quando ele morresse. Decidi me pronunciar.”
Formada em direito, professora de artesanato e prestadora de serviços de editoração eletrônica, Heloísa é também autora do livro “Meu Pai, o Guru do Presidente” (Kotter Editorial), lançado em 2019. Em 2021, se filiou ao PT, e agora cogita concorrer nas eleições de 2022 como deputado estadual. Mas, mesmo que não der certo, afirma que irá trabalhar pela eleição de Lula.
“Agora, com a morte do Olavo, terei mais tempo para resolver minhas coisas. Gastava muito tempo com ele, rebatendo mentiras. Imagina que vai ser uma briga entre os seguidores dele também, todo mundo vai querer tomar para si o ‘legado de Olavo de Carvalho’. Mas nenhum tem a mesma força e o mesmo carisma. De qualquer maneira, vão dar um sossego para a gente.”
Fonte: Universa/UOL