Partindo do princípio que o termo deseducar é inadequado, tendo em vista, que a educação, é um processo que pode ser assistemático, necessariamente quando falamos em educar, não estamos nos referindo aos aspectos didáticos e pedagógicos, mas na relação de aprendizagem e apropriação da realidade, a partir da interação, observação e mediação com os outros e os objetos, ou seja, o empirismo é educação também, o que tende a tornar o achismo, pós-verdade e os dogmas como bússola para orientar a prática social. Nesta perspectiva, a cidade por si só é educadora. A relação entre a cidade a educação pode apontar caminhos para processos de emancipadores, como também para insensibilidade, a estratificação espacial e social, a competição e a invisibilidade humana.
O termo Cidades Educadores, remete ao movimento internacional que teve início em 1990, em Barcelona, Espalha, com o I Congresso Internacional de Cidades Educadoras. Neste encontro, gestores representando várias cidades pactuaram uma série de princípios baseados no desenvolvimento dos seus habitantes e a relação com a cidade.
Pensar sobre Cidades Educadoras, inevitavelmente, nos coloca diante de discutir o Direito a Cidade, na sua dimensão econômica e simbólica. A produção do espaço urbano não se desvincula do desenvolvimento das forças produtivas. A partir deste viés a cidade se estratifica socialmente e se contrasta urbanamente. É na relação do dinheiro: Produção, circulação, acumulação e concentração do capital que a cidade vai sendo constituída arquitetônica e urbanisticamente. A cidade é local de disputa, de classes sociais distintas e antagônicas.
O direito a cidade, se vincula, a cidade que desejamos e como participamos da construção da materialização deste desejo, a interligação e as relações com a natureza, os estilos de vida, as inovações e as tecnologias, a estética, a mobilidade urbana, se distancia de uma liberdade ou de um fazer individual são frutos de um poder coletivo ( na maioria das vezes um poder que nos representa) capaz de promover mudanças em nós e na cidade.
Pensar dialeticamente a relação da cidade e das pessoas é percebê-la como transformável e transformadora. Neste sentido, o direito a cidade pressupõe mais que ter acesso aos serviços e a urbanização, refere-se ao direito de interferir consciente e coletivamente nos rumos da cidade.
Mas que entender a dinâmica da cidade, as identidades e diversidades, os seus conflitos e a sua história, é preciso transformar, criar as condições objetivas de mudança, ocupar os espaços de decisão política e alinhar a luta dos movimentos sociais ao direito a cidade, como parte integrante da luta anticapitalista.
Esse talvez seja o principal desafio: defender cidades educadores, que rompa com a ideia de conciliação de classes e manutenção do desenvolvimento do capitalismo. É necessário sair do campo escolar e acadêmico a defesa das escolas educadoras e ganhar as ruas e se impregnar na pressão dos movimentos sociais por um mundo melhor.
A luta em defesa do direito a cidade e de cidades educadoras se entrelaça às políticas públicas de cartografia social e desenvolvimento territorial que identificam características, potências, conflitos e demandas sociais negligenciadas e que apontam os sujeitos e organizações como protagonistas dos seus territórios e lugares. Essa deve ser uma luta macro pulverizada e com capilaridade no seio da luta de base comunitária e periférica onde residem os principais conflitos e complexidades das cidades.
Concomitantemente é preciso definir qual a tipo de cidade e de seres humanos que se pretende construir nas urbes educadoras, sem um norte político definido a direito a cidade perde a sua definição de transformação humana.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
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