Encontro com a Ladainha de Bruna Beber na rodoviária. Seu poema, meu estado de espírito. É preciso despir suas páginas para ver os seus intervalos de subjetividades, os seus não ditos, ditos. O seu furacão de palavras. Atiro pedras para derrubar as estrelas. Cato sorrisos para compor um navio. Como purpurina para brilhar. Acordo às quatro da manhã para não sonhar mais que isso.
Tomo café, escuto Belchior e penso em dona Lia, costurando as minhas camisas com gola de padre. Entre umas palavras e outras, vou adiando o vinho, só adiando. Bruna Beber está do lado, pernas cruzadas, casa vazia. Interrogo os meus soluços e os meus monstros escrevem sonhos de amor.
As crianças brincam, enquanto os adultos ignoram suas vidas, lembro do dia anterior, a desumanidade estava passeando e aqui reside uma criança. Todos os convites de felicidade foram cancelados, os jogos não são combinados e o amor ficou na varanda, olhando as rosas, imaginando o pulo e querendo abocanhar o horizonte.
Bruna Beber estendeu a sua bandeira vermelha de ladainha, enquanto convoco um liquidificador para entupir de palavras, bananas e melancias. Tomo como quem bebe perguntas.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, artista, educador e integrante do Coletivo Camaradas
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri