A representação parlamentar, ainda, continua sendo estranha a diversidade e pluralidade do nosso povo. As eleições de 2018, atestam um perfil que vem se reproduzindo historicamente nas câmaras municipais, assembleias legislativas, Câmara Federal e Senado , que é de exclusão das vozes oriundas de uma perspectiva emancipatória para a classe trabalhadora. A Câmara Federal reflete essa realidade, dos 513 deputados eleitos, em 2018, 107 deputados são empresários, 78 advogados, 34 médicos, 16 pastores, 30 professores, 24 administradores, 21 engenheiros, 19 agropecuaristas, 11 economistas, 9 bacharel em direito, 8 delegados de polícia, 7 militares, 6 estudantes, 6 bancários, dentre outras profissões. 75% dos eleitos são brancos, 20,27% se declaram pardos, apenas 4,09% são pretos, 0,88% amarelos e 0,19% indígena. 436 são homens e 77 são mulheres. Desses, 240 dos eleitos têm acima de 50 anos.
Essa caracterização sintetiza, reflete as relações de poder e aponta a classe dominante que decide os rumos do país, que é predominantemente representada por homens brancos e por um conservadorismo geracional.
Se considerarmos a bancada ligada à esquerda e o campo democrático composta pelo PT, PSB, PDT, PSOL, PV, REDE e PCdoB somaram em 2018, apenas 138 parlamentares. O que demonstra a necessidade de ganhar musculatura política e alinhamento com os movimentos sociais.
Entretanto, as condições objetivas apresentam um cenário eleitoral decidido pelo poderio econômico, ou seja, uma base eleitoral que é resultado da compra indireta e direta de votos. Um exemplo clássico e legal da compra de votos na contemporaneidade é a chamada contratação de “ativistas”. Quanto maior é a capacidade de contratação desses “ativistas” maior a probabilidade de votos.
Neste panorama é evidente que não são as “boas ideias” que trazem bons resultados, mas o poder econômico que provoca a manutenção e o revezamento das elites do dinheiro. Para se contrapor a essa conjuntura é preciso ganhar capilaridade e base social, identidade e articulação política ampla.
Precisamos falar para além dos nossos pares e caminhar lado-a-lado nas frentes de lutas. Faz-se necessário romper com o isolamento e com a guetização. A batalha eleitoral deve ser percebida como parte da luta política da classe trabalhadora, não é um fim, mas uma extensão do processo de acumulação de forças para o processo de transformação social.
É no cotidiano da luta política, na dimensão e compreensão do local e global que nossa força pode tomar outros contornos. Em momento algum podemos desprezar a necessidade das condições materiais para constituir as nossas frente de confronto, tanto nos movimentos sociais como na disputa eleitoral.
É preciso conciliar norte político para emancipação da classe trabalhadora e tática que possibilite ocupação dos espaços políticos de poder como instrumentos estratégicos para a democratização da sociedade e construção de uma nova ordem política, econômica e social.
A disputa eleitoral deste ano se dará numa atmosfera polarizada entre a esquerda e a direita. A chamada terceira via é um pavio curto que pode favorecer tanto a direita como a esquerda.
O que está em jogo neste momento para a classe trabalhadora é a derrota de Bolsonaro e do bolsonarismo. Além de destituir esse governo, temos um desafio maior que é ampliar a presença da esquerda e do campo democrático nas assembleias legislativas, governos estaduais, câmara e senado federal. Essa é uma matemática espinhosa e de difícil resolução.
Dois fatores apresentam um cenário desvantajoso para a esquerda e que devem estar no centro das análises políticas, um que vem se configurando nos resultados eleitorais da história do Brasil que é o poderio econômico e o outro que é novo, a capilaridade popular da direita capitaneada pelos movimentos neopentecostais do país. Elemento definidor e impulsionador da vitória de Bolsonaro e do bolsonarismo nas eleições de 2018.
O tempo é curto, a situação não é favorável, a esquerda isolada e guetizada é um pré-anúncio de derrota. Amplitude é uma bandeira ultra necessária para o momento, por mais indesejável e desconfortável que seja, é o caminho para frear a marcha conservadora, reacionária e aniquiladora das conquistas da classe trabalhadora. A eleição se ganha com votos e não com discursos, essa é uma condição objetiva e isso exige ampliar as forças e dividir o campo oposto. Cuidemos para não cairmos no puritanismo ideológico ou no entusiasmo com a falsa ideia de mudança de lado da direita. Essas eleições devem fazer parte da luta dos movimentos sociais, devemos eleger as candidaturas comprometidas com um projeto de nação para classe trabalhadora.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri