Declare-me morto. O bilhete afirmava a vida. A identidade já não poderia ser a mesma, guardava apenas as lembranças dos olhos solares de esperança e dos cachos descomprometidos com as linhas retas.
O caminho teria de ser morto. Outros lugares, um disfarce constante. Recomeçar, aprender a andar sobre um chão de crateras. Os olhos em estado de alerta. A poesia escrita na madrugada e enterrada no quintal, escondia os gritos trancados no silêncio da realidade.
A rua se tornou uma prisão. O quarto minúsculo, ponto de guarita e de alguns suspiros. Mochila pronta para qualquer viagem. Todo instante uma partida, sua e dos seus.
Os endereços encapuzados desapareceram no caminho, os rastros se ergueram de lendas. A mãe, um vale de lágrimas, acreditava encontrar, na sala de casa, a palavra: cheguei.
Os mortos não chegam, sempre mandam lembranças.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri