Desisto. Digo isso com o peso de quem já tentou. Não é da boca pra fora nem no tom dramático de quem quer chamar atenção. É um sussurro cansado, um suspiro sem direção. Há um ponto em que a persistência deixa de ser virtude e se torna um fardo. E eu, hoje, largo.
Já tentei ser o que esperavam, fazer como mandavam, responder como queriam. Vesti trajes que não me cabiam, forcei sorrisos onde só havia silêncio, insisti em conversas que já tinham acabado sem que eu percebesse. Fui ficando pelo caminho, aos poucos, na esperança de chegar em algum lugar que fizesse sentido.
Mas as promessas que me fizeram — ou que eu fiz a mim mesmo — nunca se cumpriram. Não por maldade, talvez nem por descaso, mas porque a vida não tem obrigação de seguir roteiro. E quando a gente insiste demais, começa a falar sozinho no palco de uma peça que já terminou.
Desisto de esperar retorno de quem nunca foi. De correr atrás de aplausos de plateias vazias. De me curvar pra caber em espaços pequenos demais pra quem eu sou. Não quero mais ajustar meu passo ao compasso dos outros se isso me custa os próprios pés.
Desisto, mas não com rancor. Desisto com um certo alívio. Como quem solta a corda depois de muito tempo puxando. Como quem desamarra os nós do peito e permite que o ar volte a entrar. Não é fracasso — é libertação. Tem horas em que continuar é que é covardia.
Desisto de algumas batalhas pra poder seguir inteiro pra outras. Desisto de entender tudo, de consertar tudo, de ser tudo. Há beleza em reconhecer limites. Há dignidade em deixar ir. Desistir não é morrer, é, às vezes, o único modo de continuar.
Talvez, amanhã, eu recomece. Ou talvez descubra que não era aqui mesmo que eu devia ficar. Às vezes, a estrada certa começa com uma desistência. E não é o fim — é a curva. E nela, quem sabe, há um novo começo.
Por ora, ergo as mãos e digo: desisto. Não com tristeza, mas com coragem. Porque parar também é um jeito de seguir.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este artigo é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri










