Cercado de Oscar Niemeyer. Noite distante de casa, próximo de instantânea liberdade. Sento com a escritora, num quiosque qualquer, afinal Brasília se veste de formas desconcretas e também sem paletós.
A deputada negra, sapatão e comunista, do Rio Grande do Sul, estava ao lado, trocamos algumas palavras e uns abraços, estávamos no nosso território. O músico e professor contava suas travessias do Brasil profundo, agora residia em Tocantins. A escritora era de São Paulo.
Desgustamos na mesa sonhos, cervejas e carne. Lia a boca da escritora para compreender sua língua, enquanto nos abarrotávamos de literaturas e processos criativos.
Tateava entre as palavras o seu rosto e sua cabeça raspada. Gritava em silêncio a poesia presa. A escritora escrevia a noite com a ternura dos que plantam rosas.
Tarde. Já estávamos na multidão. Último dia da nossa presença. Trazia uma foto, nossa única foto, teu livro imenso de você e as lembranças companheiras da beira da rua. Agora estou na beira dos trilhos, longe de Brasília, longe de São Paulo. Hora e outra escuto a escritora, leio seus versos dinamites e preparo molotovs para encher os livros de divergências e quebrar as normas.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, artista, educador e integrante do Coletivo Camaradas
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri