A crise do novo coronavírus tem demonstrado ao mundo que não é possível a humanidade continuar com a mesma postura de antes, em que as sociedades como um todo cultuavam uma outra espécie de isolamento, a do egoísmo, da meritocracia, e da proposital invisibilidade do próximo, pautadas pelos ideais de sucesso, de enriquecimento, e de soberba social através dos preconceitos, fomentados pelas diretrizes escravagistas do neoliberalismo. A produção de pasto para o curral mental é um instrumento vital na manutenção do status quo da decadência do humanismo.
No Brasil a tendência de transformação psicossocial parece remota, uma vez que a sociedade sofre ataques constantes da ideologia neofascista de polarização política, que negam a realidade, negam a ciência e disseminam o ódio como forma de gestão pública, com evidente propósito de controle social. O imbecilismo e a construção sistemática da ignorância não são aparatos do acaso, nem peculiaridades da dialética histórica. São aparelhamentos da manutenção do poder da extrema-direita, conservadora e obscurantista.
Robert Proctor, historiador da ciência da Universidade de Stanford, dos Estados Unidos, criou o termo agnotologia, (agnotology, do grego agnosis, “sem conhecimento”) para identificar e estudar a prática da negação da ciência, que tem como fim único produzir a dúvida e a ignorância no seio da sociedade, de forma sistemática e planejada, utilizando os métodos da publicidade e do marketing. A desinformação cultural, social, histórica e científica, usa dados errôneos, fatos descontextualizados, devidamente confirmados por pseudocientistas ou falsas autoridades, para manipular a opinião pública dos beócios, ou dos portadores crônicos de deficiências do conhecimento. Assim fundam currais, efeitos manadas e idolatrias da mentira.
Vale ressaltar que esse fenômeno da imbecilização não anda sozinho. A subutilização dos Think Tanks e a profícua produção de notícias-lixo complementam o intenso processo de imbecilização da sociedade, além dos memes e das contrainformações voltadas para microninchos. Esses são os aparatos da expansão do neofascismo e do neonazismo que empoderam a emporcalhada elite brasileira, também conhecida como os cafuçus de grife, que são aqueles analfabetos funcionais que têm posses, são portadores endêmicos de preconceitos tóxicos e são vetoriais transmissores da incapacitação do espírito na leitura da realidade, para seus subalternos dependentes sociais.
A expressão Think Tanks (think: pensar e tank: tanque, reservatório) pode ser traduzida como Laboratório de Ideias ou gabinete estratégico e se refere diretamente às instituições criadas para analisar fenômenos e produzirem pareceres sobre vários assuntos e que sirvam como fundamentação para determinada ideologia. Os Think Tanks são escritórios que agregam intelectuais e cientistas que se prestam à venda de informações negacionistas voltadas para os interesses de qualquer um que pague. São os maiores produtores de notícias-lixo para a manutenção dos ideais políticos do neoliberalismo atrelado à extrema-direita neofascista, principalmente a americana, que serve de modelo para a manipulação do curral bolsomínio.
Eles atuaram efetivamente nas recentes polêmicas do clima, do desmatamento, nas reformas político-econômicas, nas queimadas, no desmatamento, nas especulações das bolsas e na precarização do trabalho. Eles fornecem argumentos fantasiosos e alimentam a ideia de preservação do trabalho e da fé em Deus. Fabricam as chamadas Armas de Distração em Massa, provocando o distanciamento do foco do debate político, como estratégia de manutenção da exploração predatória do próximo, para que o seu aniquilamento não seja questionado. A mais recente atuação deles tem sido durante a pandemia, com alegações de falência econômica por causa do distanciamento social, uma falácia neoliberal de negação do ser humano. A mesma coisa acontece com a polêmica envolvendo a cloroquina, uma defesa puramente de lucros.
As principais instituições deflagradoras dessas notícias-lixo são Breitbart, Hannity e Gateway Pundit. Os três fazem parte de uma lista de 113 plataformas que espalham essas inverdades pelo mundo, todas a serviço do governo Trump, o abominável. No Brasil o Think Tank é o gabinete do ódio, liderado pelo pestilento Olavo de Carvalho, o vaqueiro capataz do curral, e pelos filhos de Bolsonaro. A adesão a essas ideias bizarras tem provocado aberrações comportamentais, típicas de uma postura criminosa contra a humanidade. Um exemplo dessa cultura do ódio neofascista é o episódio que envolve Marcão do Povo, um famigerado apresentador do SBT, que sugeriu ao des-presidente Bolsonaro a criação de um campo de concentração para os infectados do novo coronavírus.
Essa nova face do fascismo tem a chancela em cadeia, que oscila de quem manda a quem obedece, a quem baba e não é babado. A cultura da “desculpa por ter sido canalha” tem se firmado na sociedade brasileira, que se divide em não aceito de forma nenhuma ou isso é um plano de Deus para uma coisa maior. Foi isso que disse o patife apresentador do programa Primeiro Impacto, ao comentar o seu afastamento pelo SBT: “Deus tem a resposta para todas as perguntas. (…) A vida é assim, temos que pagar alguns preços altíssimos para que possamos chegar onde Deus quer”. Amém!!??
Por Marcos Leonel – Escritor e cidadão do mundo
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri