O Conselho Federal de Farmácia (CFF) autorizou a prescrição de medicamentos por farmacêuticos, uma medida que reacendeu o debate sobre a autonomia desses profissionais na área da saúde. Embora o papel do farmacêutico seja essencial para garantir o uso racional de medicamentos, a prescrição de fármacos por esses profissionais levanta questionamentos sobre segurança, diagnóstico e a real competência para indicar tratamentos.
A decisão do CFF permite que farmacêuticos prescrevam medicamentos isentos de prescrição (MIPs) e também possam indicar terapias dentro do que é chamado de “manejo clínico de condições de baixa complexidade”. No entanto, médicos alertam para os riscos dessa ampliação de funções, destacando que a prática médica exige anos de formação especializada e um conhecimento aprofundado sobre doenças, interações medicamentosas e diagnósticos diferenciais.
Prescrição: um ato médico essencial
A prescrição de medicamentos não é um ato isolado, mas parte de um processo diagnóstico complexo. O médico, ao receitar um tratamento, leva em consideração histórico do paciente, exames clínicos, interações medicamentosas e possíveis contraindicações, garantindo uma abordagem individualizada e segura.
O diagnóstico não se baseia apenas em sintomas evidentes, mas em um raciocínio clínico amplo, que exige exames laboratoriais, avaliação de comorbidades e monitoramento da resposta ao tratamento. A ausência dessa abordagem pode levar a erros de prescrição, mascaramento de doenças graves e agravamento do quadro clínico do paciente.
A importância da formação médica
Médicos passam, no mínimo, seis anos na faculdade e até mais de dez anos de formação com especializações e residência. O estudo detalhado da fisiologia, patologia, farmacologia e interações medicamentosas faz parte de um treinamento rigoroso para garantir que a prescrição de medicamentos seja segura e eficaz.
Embora os farmacêuticos possuam grande conhecimento sobre fármacos, sua formação não inclui diagnóstico clínico aprofundado, tratamento de doenças complexas e acompanhamento integral do paciente. Esse limite precisa ser respeitado para evitar que a prescrição seja feita sem a devida avaliação médica, colocando em risco a saúde dos pacientes.
O perigo da banalização da prescrição
A ampliação do direito de prescrição para os farmacêuticos pode trazer riscos como:
Falta de diagnóstico correto – Algumas doenças apresentam sintomas semelhantes, e sem a avaliação médica, há um grande risco de erro na escolha do tratamento.
Uso indiscriminado de medicamentos – Sem um controle rigoroso, pode haver aumento da automedicação e do uso incorreto de fármacos.
Mascaramento de doenças graves – Sintomas tratados de forma superficial podem esconder problemas sérios, retardando o diagnóstico correto.
Risco de interações medicamentosas – Sem um histórico clínico completo, a combinação de fármacos pode gerar reações adversas perigosas.
A necessidade de limites claros
A atuação multiprofissional na saúde é fundamental, e farmacêuticos desempenham um papel essencial na orientação e no uso correto dos medicamentos. No entanto, há uma linha tênue entre a colaboração profissional e a substituição do médico no processo de prescrição.
Médicos defendem que a melhor forma de garantir um atendimento seguro e eficaz é fortalecer a atuação conjunta, em que farmacêuticos tenham um papel complementar, mas sem ultrapassar os limites da prescrição médica. O risco, caso essa fronteira não seja respeitada, é comprometer a qualidade do atendimento e expor os pacientes a erros que podem ter consequências graves.
O debate continua, mas uma coisa é certa: a prescrição de medicamentos deve ser conduzida com responsabilidade, dentro dos limites da formação profissional de cada área. A saúde do paciente deve sempre estar em primeiro lugar.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este artigo é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri