A fofoca é uma espécie de rudimento do jornalismo. O fofoqueiro tem que ter faro para notícia, precisa de fontes seguras e confiáveis, mas não necessariamente carecem ser tão amantes da verdade. É que a notícia, para ser mais interessante e palatável, necessita ser banhada de ficção. Um aumentozinho daqui, uma exagero dali funcionam como pequi em baião de dois. E o pessoal da fofoca, como seus colegas do jornalismo, tendem, também, a ter lá suas especialidades. Alguns imitam os repórteres e partem à cata da notícia. Para tanto utilizam lá suas técnicas, contam alguma inconfidência de preferência mais cabeluda e, depois, com clima mais leve, começam a escarafunchar outras: “Como vai aquele teu irmão que se separou?”, “Aquele teu tio já terminou o tratamento do câncer?”, “Tua irmã ainda tá vivendo com aquele pistoleiro?”. Há ainda o pessoal da fofoca que se especializa na difusão, imitam os apresentadores de programas de rádio e TV. Têm, em geral, voz de camelô, gestos teatrais e adoram as rodinhas de bar e das praças, os aglomerados de mercados, as bodegas… Sem falar nos fofoqueiros investigativos, aqueles que escutam as conversas telefônicas e conseguem completar o diálogo, mesmo sem ouvir a voz que se comunica do outro lado da linha. Eram, também, especialistas, num tempo, em abrir cartas sob o vapor da panela, a fim de curiar as informações bem antes dos destinatários e, voltar a fechar as correspondências, cuidadosamente, e devolvê-las à Caixa Postal.
Hoje, com a modernidade, esmiúçam e-mails e redes sociais, fuçam mensagens do WhatsApp. Há, também, os especialistas em área de família, pesquisando separações, defloramentos, traições, namoros, desvios de conduta. E os que se detêm na esfera policial: rebus, BO´s, arranca-rabos, roubos. Sem falar nos interessados pelo setor funerário, levantando, com indisfarçado prazer, o esticamento de canela de conhecidos e, preferencialmente, figuras importantes. E, claro, existem os “Clínico gerais”. Boa parte da vezes, a fofoca é contada com o simples prazer de um “furo” jornalístico, apenas como novidade, sem o sentimento de prejudicar o outro. Mas, como na área de comunicação, existe também a imprensa marrom, principalmente em tempos de eleições, aí colocam-se lentes de aumento nas notícias e pululam as fakenews. Existe uma regra tão universal como a teoria da gravidade: a fofoca é inversamente proporcional ao tamanho da cidade. Quanto menor a vila mais a fofoca impera, talvez porque inexistam outros veículos de mídia e outras formas de lazer.
Há alguns anos se dizia que no Crato, quem quisesse se estabelecer comercialmente devia fugir, como o satanás do catecismo, da tentação de fundar uma rádio, um jornal ou uma empresa de câmeras de segurança. Era falência certa, impossível enfrentar a concorrência dos fofoqueiros de plantão que já exerciam essa função com muito mais velocidade e competência. Mas isso também pode ser fofoca, né?
Por J. Flávio Vieira, médico e escritor. Membro do Instituto Cultural do Cariri (ICC). Agraciado com a Medalha do Mérito Bárbara de Alencar
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri