A política pública não tem neutralidade, já que é um campo de disputa de narrativa de sociedade. O cenário, no campo da cultura no país, retrocede na descontinuidade dos inúmeros avanços e acúmulos de discussão com forte participação social dos diversos segmentos que compõem o recheado tecido plural e diverso das culturas, artes, movimentos sociais, pesquisa, inovação e da tecnologia do povo brasileiro.
Marcos legais, planejamentos e decisões das conferências nacionais, fóruns de linguagens artísticas e da tradição popular estão sendo violados, desprezados e combatidos pelo governo de direita e de caráter fascista de Jair Bolsonaro.
O desmonte da política pública no atual governo começa com a extinção do Ministério da Cultura e a sua transformação num órgão vinculado ao Ministério da “Cidadania”. Ministério que já nasceu com face de Fake News, tendo em vista, que diversos gestores de estado, incluindo o Presidente da República, já fizeram declarações de combate aos direitos humanos, apologia ao justicismo, negação dos direitos conquistados na Constituição de 1988 e defesa de ditaduras militares e torturas.
A Secretaria Especial da Cultura, órgão que responde pela pasta da cultura, no governo Bolsonarista, transformou-se numa espécie de think tank e agência de publicidade de Olavo de Carvalho e da Igreja Bola de Neve, organização religiosa liderada por Rinaldo Seixas “Apóstolo Rina”, autor do áudio que circulou no país pedindo votos para Jair Bolsonaro (que inicialmente foi atribuído ao padre Marcelo Rossi) e de combate ao que ele chama de “marxismo cultural”. Termo bastante difundido pelo Olavistas, que distorce o conceito do materialismo histórico dialético desenvolvido por Karl Marx, no sentido de criminalizar e “demonizar” o comunismo e as pessoas do campo político democrático, progressista, popular e de esquerda. O ex-secretário da pasta, Roberto Alvin, declarado conservador, é discípulo de Olavo de Carvalho e nas suas redes sociais, de forma contínua, replica os devaneios e atrocidades do guru da direita no país. Alvin também é um bolanevista, integra a igreja do Apóstolo Rina, de forma protagonista.
Essa relação íntima com as ideias de Olavo de Carvalho, Bolsonaro e a Bola de Neve Church, propiciam o estilo da política pública para cultura que se mancha e delimita num viés elitista, excludente, conservador, perseguidor e de retirada de conquistas.
A laicidade do Estado brasileiro está ameaçada pelo atual governo e aponta caminhos desconhecidos para o caráter republicano do país. O legado dos Governos Lula e Dilma para a política pública e a gestão da cultura no Brasil está na forca.
A luta está no campo ideológico e institucional, não nos enganemos, são bolas de neves, filósofos de youtube, think tank e interesses econômicos que estão guiando as viseiras e as rédeas da nova política devastadora da cultura no país.
Fiquemos em alertar e combater, pois esse não é o único bola de neve do governo. Existe uma orquestra ocupando e disputando os espaços de poder governamental e parlamentar, com pautas claras de retirada de direitos, homogeneização social e conservadorismo. Sejamos fogo, vem muita bola de neve pela frente.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri