O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou em entrevista neste sábado (15), no Rio de Janeiro, que o ex-capitão da PM Adriano Nóbrega, morto no domingo (9), era um herói na época em que foi homenageado pelo senador Flavio Bolsonaro (sem partido).
Essa foi a primeira manifestação do presidente sobre a morte do miliciano ligado ao seu filho mais velho. Ele foi morto no município de Esplanada (BA), ao ser alvo de operação que envolveu as polícias baiana e fluminense.
Investigações apontam que Adriano atuava em diferentes atividades ilegais: milícia, jogo do bicho, máquinas caça-níqueis e homicídios profissionais.
Adriano foi homenageado por Flávio em 2005 com a Medalha Tiradentes, mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio. Bolsonaro também disse que foi ele quem determinou que Flávio condecorasse o ex-policial militar.
“Não tem nenhuma sentença transitada em julgado condenando capitão Adriano por nada, sem querer defendê-lo. Naquele ano ele era um herói da Polícia Militar”, afirmou.
Adriano estava detido quando foi homenageado por Flávio Bolsonaro. Em janeiro de 2004, ele foi preso preventivamente, acusado pelo homicídio do guardador de carro Leandro dos Santos Silva, 24.
O então policial chegou a ser condenado no Tribunal do Júri em outubro de 2005, mas conseguiu recurso para ter um novo julgamento, foi solto em 2006 e absolvido no ano seguinte.
O ex-policial foi citado na investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro que apura se houve “rachadinha” no gabinete de Flávio quando ele era deputado estadual. Segundo o MP-RJ, contas de Adriano foram usadas para transferir dinheiro a Fabrício Queiroz, então assessor de Flávio e suspeito de comandar o esquema de devolução de salários.
Queiroz e Adriano trabalharam juntos no 18º Batalhão da PM. Foi por meio de Queiroz que familiares de Adriano foram contratados como assessores no gabinete de Flávio: a mulher do ex-capitão, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, de 2007 até novembro de 2018, e a mãe dele, Raimunda Veras Magalhães, de abril de 2016 a novembro de 2018.
Em 2005, enquanto estava preso preventivamente pelo homicídio de um guardador de carros, Adriano foi condecorado por Flávio com a Medalha Tiradentes. Flávio já havia homenageado o hoje ex-policial dois anos antes. O então deputado estadual apresentou uma moção de louvor em favor de Adriano.
Adriano também foi defendido por Jair Bolsonaro, então deputado federal, em discurso na Câmara dos Deputados, em 2005, por ocasião da condenação por homicídio. O ex-capitão seria absolvido depois em novo julgamento.
Na entrevista deste sábado, Bolsonaro também disse que conheceu Adriano em 2005, mas que nunca teve contato com ele. Acrescentou que quem o matou foi a PM da Bahia, “do PT”. Afirmou, ainda, que não tem relação com a milícia do Rio.
Questionado se também havia pedido que Flavio empregasse em seu gabinete na Alerj a mãe e a mulher de Adriano, Bolsonaro respondeu que encerraria a conversa. “Vocês estão passando para o absurdo”, disse. Flávio, em seguida, assumiu o microfone.
“Homenageei centenas e centenas de policiais militares e vou continuar defendendo, não adianta querer me vincular com a milícia, não tem absolutamente nada com milícia. Condecorei o Adriano há mais de 15 anos.”
A Folha, então, voltou a perguntar sobre os parentes de Adriano empregados no gabinete de Flávio. Bolsonaro rebateu: “Fica quieta, vai, deixa ele falar. Educação”.
A mãe do ex-PM, Raimunda Veras Magalhães, e a mulher dele, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, deixaram o gabinete de Flávio, a pedido, no mesmo dia, em 13 de novembro de 2018. Elas ocupavam um mesmo cargo e ganhavam R$ 6.490,35 mensais cada uma.
Raimunda é um dos ex-servidores de Flávio citados em relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que identificou movimentações financeiras atípicas de seu ex-assessor Fabrício Queiroz. Ela repassou R$ 4.600 para a conta de Queiroz.
Depois da intervenção do pai, Flávio continuou: “Como posso adivinhar depois de 15 anos o que ele [Adriano] vai fazer hoje?”. Afirmou que a imprensa insiste no assunto porque não tem o que falar de um governo que está dando certo.
O senador disse, ainda, que Adriano pode ter sido torturado. “Para falar o que? Com certeza nada contra nós, porque não tem o que falar contra nós. Não temos envolvimento nenhum com milícia”, afirmou.
Bolsonaro viajou ao Rio neste sábado (15), onde participou da inauguração da alça que ligará a ponte Rio-Niterói à Linha Vermelha e de um megaevento da Igreja Internacional da Graça de Deus, em Botafogo, na zona sul.
No primeiro, esteve acompanhado do juiz Marcelo Bretas, do senador Flávio Bolsonaro (sem partido), dos ministros Augusto Heleno e Tarcisio Freitas e do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos).
É a segunda vez em menos de um mês que o presidente vai ao Rio participar de uma solenidade com Crivella. O prefeito, que acumula altos índices de rejeição, tenta costurar o apoio de Bolsonaro à sua campanha pela reeleição. Por enquanto, o presidente ainda não se manifestou a favor de qualquer candidato.
Suspeitas
A suspeita de que Adriano da Nóbrega tenha sido morto com tiros disparados a curta distância foi classificada como “infundada” pela Secretaria da Segurança da Bahia, enquanto a defesa do miliciano avalia ter sido reforçada a tese de “queima de arquivo”.
A revista Veja obteve fotos feitas após a autópsia do corpo do ex-capitão, morto em Esplanada (BA) no último domingo (9) em operação policial. Dois especialistas ouvidos pela reportagem analisaram as imagens e consideraram haver indícios de que Adriano tenha sido atingido a curta distância.
Em nota, a Secretaria da Segurança da Bahia, ligada ao governo Rui Costa (PT), qualificou as informações de “infundadas” e afirmou que as fotografias apresentadas pela revista não são oficiais.
“Dessa forma, os peritos não podem afirmar se foram de alguma forma manipuladas ou não e, portanto, não podem se manifestar sobre as mesmas.”
Segundo a secretaria, Adriano foi morto após reagir à ação policial. Ela diz que as lesões por arma de fogo “não foram feitas com proximidade”.
A pasta afirma que a distância dos disparos foi de pelo menos um metro, embora ainda não seja possível fixá-la com exatidão. “É impossível afirmar distância dos disparos, sem a reprodução destes, promovida com a mesma arma e munição similar, contra um anteparo.”
Fonte: Folhapress