Andu, ou feijão-guandu, é uma leguminosa arbustiva nutritiva e resistente à seca, originária da Ásia tropical e trazida ao Brasil pelos escravos africanos. É bastante utilizado na culinária, substituindo o feijão tradicional. Inclusive, o baião de dois de andu é um dos pratos mais tradicionais do Cariri cearense, mais especificamente na meca do triângulo Crajubar, esse prato com pequi é bom; com queijo, ave Maria; com torresmo, Nossa Senhora! Apenas o caldo é um pouco fraco, mas se toma com um punhado de farinha, sendo uma maravilha.
Mas a nossa história de hoje não é sobre culinária, muito embora, este que vos escreve seja um cozinheiro honorário de comidas triviais de nossa culinária popular. A nossa história é sobre um pé de andu, que pela grandeza e capacidade produtiva, poderia muito bem levar a uma terra de gigantes como na história de Joãozinho e o pé de feijão. Mas não se trata de ficção, o que conto é da mais pura verdade, e dona Rosa Dandim, está ali em São Paulo e pode provar, já que ela conta essa história sempre que aparece um ouvinte querendo saber das coisas do Cariri.
Eram os anos oitenta e dona Rosa morava numa comunidade simples, numa rua simples, numa casa simples com um pequeno terreno ao lado. Foi nesse terreno que por acidente, nasceu um pé de andu. Talvez a fertilidade daquele solo se devesse aos resíduos orgânicos que muitas vezes lá eram despejados pelos cabinhas, filhos dos moradores da rua. Porque é de conhecimento dos especialistas em andu, que essa planta tolera longos períodos de seca e se adapta a solos pobres e com poucos nutrientes. E a planta cresceu rápido, viçosa, e frondosa, e à medida em que a planta ia crescendo, dona Rosa ia se dedicando a cuidar dela. E com o cuidado a planta cresceu, cresceu, cresceu. Causaria até inveja ao cajueiro de Pirangi.
Todos sabemos, ou pelo menos quem mora por essa região, que adora o andu, sabe: O tempo de safra do andu varia, mas a colheita geralmente ocorre após o desenvolvimento das vagens, entre 90 dias após o plantio, o ciclo produtivo pode durar entre 90 e 180 dias, influenciado por fatores como fotoperíodo e temperatura. Além disso um anduzeiro não tem um número fixo de safras por ano, pois é uma planta que produz frutos esporadicamente ao longo do ano.
Isso para um roçado de anduzeiros comuns, porque no terreno de Dona Rosa Dandim, esse anduzeiro sozinho alimentou por cinco anos seguidos toda a população daquela rua, além das adjacências, inclusive muita gente de São Paulo, onde moram os filhos de dona Rosa. Aquela produção de andu em um só anduzeiro entraria fácil para o Guiness book, houvesse essa categoria. Sua existência durou cinco anos, foram os cinco anos em que toda a população daquela comunidade se esbaldou de comer andu, porque andu não se abusa.
Sendo dona Rosa pessoa de bom coração, a distribuição se dava pela ordem das ruas, primeiro os vizinhos mais próximos, depois os das ruas adjacentes, depois os mais distantes e a cada ciclo completado, lá ia de novo. Isso durou os cinco anos, e duraria muito mais, pela bondade de dona Rosa e pela capacidade produtiva do anduzeiro.
Acontece que alguém sugeriu aquela boa senhora que ao invés de distribuir andu ao povo, era melhor vender. O cara era dono de um comércio onde se vendia de tudo, mas o carro chefe era os grãos de arroz, feijão, milho, fava e até andu. O homem via seu negócio prejudicado e acabou por aconselhar a dona Rosa a venda do andu para o povo. Dona Rosa se sentiu ofendida, e no outro dia bem cedinho fez a última cata no anduzeiro, depois meteu-lhe a foice pra cima e pôs a planta abaixo. E após a derrubado, exclamou: Vender andu? Andu é lá coisa de se vender? Quem peste vai comprar andu? Em três dias com a planta já murcha, finalizou a história do anduzeiro tocando-lhe fogo. Dizem que o cheiro de andu tomou conta do Cariri por sete dias.
Por Francinaldo Dias. Professor, cronista, flamenguista, contador de “causos” e poeta
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri










