A palma do gado no prato de ágata
Fervida em pouca água
Com a última sobra de farinha guardada
Metade de uma mão cheia pra cada.
Nas brenhas da Caatinga não se sabia
de trenós puxado por renas e Papai Noel não existia…
Era a noite do Menino Deus
só isso sabiam
Estranhamente a imagem da manjedoura
vista um dia na quermesse da igreja e que apenas algum viu e aos outros contava
Bastava para a fé de uma boa invernada
E noutros presentes não pensavam.
Quantos Severinos modernos pela mesma miséria dos outros Severinos passados
Não terão na mão
O prato de ágata
a palma do gado fervida em pouca água
e a meia mão de alguma sobra de farinha
nem mais esperança nas coisas desse mundo?
Nem restará a lembrança da manjedoura, estrela guia, Menino Deus,
ou de um Deus que é Pai!
Sobre as mesas fartas e manhãs de sobras
o princípio, meio e sem fim
da miséria e desgraça
Daqueles Severinos passados
Dos modernos Severinos amontoados nas calçadas e praças…
No céu a estrela guia passa
como os dias, os anos no calendário
só os severinos retirantes, migrantes
na cruz da injustiça crucificados
sobre a terra não passam.
Por Fabiano Brito. Cratense, cronista e poeta com três livros publicados: “O Livro de Eros”, “Ave Poesia” e “Lunário Nordestino” (Editora UICLAP)
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri