As eleições municipais se apresentam como momentos propícios para colocar a cultura na pauta e evidenciar o oportunismo de plantão. Historicamente, nos municípios em especial, a cultura é tratada como adereço das políticas públicas. Essa superficialidade é percebida quando fazemos análise de orçamentos e constatamos desigualdades de investimentos no fortalecimento da cadeia produtiva da cultura e nos processos de fomento e fruição, em contraposição aos altíssimos gastos com os eventos da indústria cultural de massas, à serviço do mercado.
A visão ornamental da cultura é recorrente nos discursos eleitorais e precisa ser combatida de forma firme e consequente. A compreensão sistêmica da cultura e o seu papel estratégico para construção emancipatória deve ser o centro das discussões para colocar a cultura na centralidade e transversalidade política. A escala da democracia cultural para a classe trabalhadora tem que ser robusta para se contrapor a cultura de mercado.
Colocar a cultura na dimensão de projeto de sociedade é diferente apresentar um projeto de cultura na sociedade. Destravar o pensamento reducionista é entender a necessidade de estruturar uma política de estado que ganhe capilaridade nas organizações populares e continuidade institucional.
No oportunismo eleitoral, a cultura é posta nos braços como adorno para potencializar o resultado eleitoral. É preciso colocar na mesa, quem é quem no jogo político, medir a correlação de forças, retroceder no campo das ideias para avançar na incidência política e ao mesmo tempo organizar uma frente ampla da cultura capaz de pautar a disputa eleitoral e amarrar compromissos para uma nova cultura de sociedade.
O diálogo franco, sem maquiagem e quando possível com delicadeza, mas carregado de uma pauta política que aprofunde e consolide Sistemas Municipais de Cultura e as Políticas Municipais do Cultura Viva é essencial para apontar caminhos e estruturar a política cultural como estratégica para o desenvolvimento econômico, social e civilizatório.
As eleições municipais deste ano não estão desvinculadas das eleições presidenciais de 2026. As forças reacionárias, conservadoras, bolsonaristas e neofascistas estão organizadas e articuladas em todo o país para aglutinar forças políticas para derrotar o campo democrático e popular. O Congresso Nacional apresenta uma configuração desfavorável para o avanço da democracia, o que se reverbera no próprio governo Lula. A maioria dos Ministérios não estão nas mãos dos representantes da classe trabalhadora, muitos dos partidos que eram aliados do bolsonarismo permanecem no atual governo, ou seja, esse é um governo em disputa. Cabe à esquerda fortalecer a sua base social, ampliar o seu poder institucional e avançar nas pautas para uma nova cultura política e de sociedade.
As condições postas não as ideais, algumas candidaturas do campo democrático, popular e de esquerda saíram com suas bandeiras amareladas e esverdeadas. Paciência! No jogo político não são as ideias que ditam o seu ordenamento, mas as condições objetivas, mas é diante desta contradição que temos que encontrar fôlego e caminho para avançar.
Não podemos nos permitir em se iludir com a direita. O País vivenciou a descontinuidade e a desconstrução da política de estado em curso no Brasil com o governo de Bolsonaro e a ampliação do discurso reducionista e conservador e elitista no campo cultural.
Faz-se necessário que as frentes de cultura nos municípios, não sejam as fanfarras das candidaturas. É preciso aumentar o tom, a cultura já levou porradas demais. Nos interessa discutir a vida, antes de nos preparar para o teatro.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, artista, educador e integrante do Coletivo Camaradas
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri