É verdade que o presidente Lula nem sempre é um livro aberto. E nem deveria. Também é verdade que muitos capítulos de extrema importância foram adicionados à essa terceira edição de Lula no poder. Agora ele exibe uma luxuosa capa dura, criada pelo tempo, cruel em sua arquitetura, mas generoso em sua essência.
Lula voltou muito mais forte, muito mais experiente, não só por necessidade pura, mas também pela urgência de se moldar aos novos tempos. Lula voltou maior do que o Partido dos Trabalhadores, que também cresceu e recrudesceu. Lula tem seus próprios seguidores, sejam eles do PT ou não, o que é fato.
Nenhum político brasileiro teria a capacidade de neutralizar a onda nazifascista do bolsonarismo, a não ser ele, em sua grandeza, em sua experiência comprovada, em sua proficiência política de se movimentar com dignidade em meio a tantos abismos de intensas pilantragens na política brasileira.
Lula formou uma resistência até entre aqueles que não resistiam em deixar de tirar uma casquinha na bandidagem pública brasileira. Nem todos que agora caminham com Lula são inocentes, mesmo porque a inocência em seu estado puro não tem utilidade no mundo da política, o que não equivale a estabelecer a canalhice como parâmetro orgânico secular.
Lula venceu com os votos dos renitentes velhos de guerra e dos panegíricos de repente, uma vez malogrados com escolhas que puseram a ralé no poder. A posse foi linda e significativa na mesma intensidade dos atos terroristas da diplomação e do 8 de janeiro, entre tantos outros. Lula agora se depara com uma elite desavergonhada, que não tem nenhum constrangimento com o golpismo.
Lula foi eleito para modificar as entranhas do poder, cada voto digitado nas urnas eletrônicas continha mensagem aberta de esperança e de ansiedade, em busca de direitos humanos, de igualdade, de respeito e um mínimo de dignidade. Revogar, quebrar sigilos, reestatizar o estado de segurança nacional, é o básico que esses votos denunciam. E é o que foi entregue como renovação em campanha, foi esse o ressuscitar propagado.
Tamanha é a missão desse homo faber, tamanho é o compromisso assumido. Essa é a dimensão que não permite e não dá o direito ao PT para a permissão da permissividade como autoflagelação. É preciso expurgar a anistia dos militares golpistas, esse é um preço muito alto a ser pago. É urgente desconstruir José Mucio e toda a querela da extrema-direita fascista que teima em ficar.
É preciso dissolver a bandidagem outorgada ao União Brasil, sob pena de um suicídio programado. É necessário que exista alguém como referência, dentro do governo, que possa dizer em alto e bom tom que nem tudo o que é grande tem altivez. É preciso procurar as armadilhas do mercado dentro do próprio governo, pois é o mercado que marca o povo como mercadoria, agora clandestina, sem nota, contrabandeada pelo nazifascismo.
É necessário que Lula assuma o seu tamanho, para além dos ardis da governabilidade, para além dos acordos feitos em salas fechadas. É chegado o momento do passo maior, sem deixar de lado o que a perna possa dar. É preciso honrar cada voto. E isso não passa pelo viés da velha política de sabotagem embutida e impunidade descarada. Se é para ser grande, que seja monumental, para que o incômodo do porte seja proposital.
Por Marcos Leonel – Escritor e cidadão do mundo
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri