O homem caiu no chão. Carregava um peso que não podia suportar. Era segunda-feira, dia de agonia, buzinas, gente formigando às ruas, filas e preguiça. O povo fazia ciranda, só para olhar. Barbudo, olhos claros, corpo franzino, camisa passada, sapato de couro, calça preta, cabelo de anjo, embolado mesmo.
Ninguém conhecia. Bolsos vazios, nenhum documento. Parecia inofensivo, talvez fosse poeta, quem sabe pastor, podia ser também vendedor, professor, sapateiro, podia ser tanta coisa. Era um desconhecido, essa era a questão.
A sensação era que saia um breve e disfarçado sorriso, mas o corpo daquele homem continuava parado, apenas o dele, os demais ficavam se revezando para especulação alheia.
O homem não identificado desapareceu. Continuei no banco, como era de costume, todas as manhãs, inclusive às segundas-feiras, ficava na praça contando as coisas. Às vezes contava pássaros, carros, crianças, postes, árvores. Só não queria contar o tempo, como o daquele o homem.
Por Alexandre Lucas. Pedagogo, integrante do Coletivo Camaradas e presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais do Crato/CE
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri